Emprego: idade ou capacidade?

Às vezes, é difícil compreender certas coisas que se passam bem ao nosso lado e, verdade seja dita, com alguns de nós. Uma delas diz respeito ao injusto mercado de trabalho, que não dá grande importância àquilo que deveria tê-la – a dignidade do ser humano que precisa trabalhar. Com efeito, é sabido que os empregadores (não todos, é claro), ou seus prepostos, são frios na sua avaliação, deixando de lado o valor dos candidatos para manter algumas exigências que são conflitantes na essência e que não levam a nada; ou melhor, conduzem a situações incompreensíveis e merecedoras de crítica equilibrada e construtiva.

Pensando bem, como aceitar que o jovem do primeiro emprego (com menos de 25 ou 20 anos) seja obrigado a responder se tem experiência? Afinal, como ter experiência se não houver o primeiro emprego? Fica complicado conciliar o problema, que é muito parecido com a história do ovo e da galinha: sem experiência não há o primeiro emprego; sem o primeiro emprego não há experiência. É uma incongruência, sem boca para dizer alguma coisa. O que fazer para resolver o impasse e conseguir o emprego?

Mas o mercado de trabalho não deixa de agredir também o candidato a emprego com experiência – a experiência que os empregadores fazem questão. Assim, se o homem ou a mulher satisfazem o desejo dos que dizem querer experiência, acontece uma nova incoerência silenciosa – a rejeição sistemática dos que ultrapassaram a faixa dos 50 anos (quando não é menos). Não é estranho? Pede-se experiência e ao mesmo tempo pouca idade (se bem que ser jovem nem sempre depende da idade). Como pode o jovem ser bem experiente, ou como pode o experiente não ter anos a mais? Certamente, algo está errado, e os responsáveis deveriam dar oportunidade de trabalho a todos, revendo as fórmulas rígidas de seleção de pessoal.

Sem querer acusar ninguém (acredito que os procedimentos não sejam dolosos), o que o mercado de trabalho faz parece ter um pouco de preconceito. De fato, é como se houvesse uma barreira (não seria discriminação?) em relação aos mais novos e aos mais velhos. Sobram os que estão no meio (entre 35 e 45 anos, mais ou menos).Todavia, em tudo existe o começo, o meio e a terceira parte (nesta, o tempo pode ser mais ou menos longo, variando de acordo com cada pessoa). Deixar de lado, ou dar tratamento desigual, a alguma das três partes na vida da força de trabalho, constitui atitude execrável, que deve ser repudiada pela sociedade e está a ter o crédito do devido reparo daqueles que, mesmo inconscientemente, a praticam.

As linhas deste artigo não poderiam deixar de expressar o que muitos certamente haverão de assentir: há bons e maus candidatos entre os jovens do primeiro emprego; há bons e maus candidatos no meio dos experientes; há bons e maus candidatos na faixa etária intermediária. Por que então limitar o emprego, não aceitando os mais jovens e os mais experientes? Não seria mais inteligente (como uma dose substancial de coerência e justiça social) pensar apenas na competência e honestidade e esquecer a idade do candidato a emprego? Fica a indagação, que tem muito de lamento e protesto, à qual a incongruência – sempre inexplicavelmente silente – parece sentir dificuldade em dar uma resposta correta e aceitável.

Falta arrematar ainda com algo mais: como pode viver o homem acima dos 50 anos, se o mercado de trabalho não o aceita? Da mesma forma, qual o modo de subsistência do jovem e como vai ele ser iniciado (e não o deixam iniciar) na prática profissional? O que vale é a idade ou a capacidade? E não se ouve a resposta a estas perguntas… Apesar disso, dá para entender bem – como de hábito, a incoerência cala-se quando deveria falar.

Seria desejável, por fim, que os empregadores (felizmente, alguns já o fazem) passagem a adotar o que seria mais vantajoso para eles e justo para os candidatos a emprego – a contratação de profissionais, julgando-os pela competência e não apenas pela faixa etária a que pertencem.

Voltar ao topo