Compre e ajude

Novo modelo de negócio veio para ajudar quem precisa

Fernando Fantinato Kuwahara, proprietário do Espaço Moko e as camisetas produzidas com desenhos de crianças (Foto: Raquel Tannuri Santana).

Empreender - Tribuna Nem só de lucro vive o comércio. Cada vez mais a chamada “economia colaborativa” se faz presente entre os empreendedores locais, sejam eles pequenos, médios ou grandes. Dividir o lucro e assim, colaborar com alguma instituição de caridade, ajuda na imagem da empresa, traz descontos no Imposto de Renda e ainda por cima fomenta a economia da cidade. É o que fazem três empresários de Curitiba, que a cada venda de uma peça que produzem, doam outra para ajudar os mais carentes.

Na Moko, Fernando faz parcerias com pequenas marcas locais. Objetivo é fomentar os negócios (Foto: Raquel Tannuri Santana).
Na Moko, Fernando faz parcerias com pequenas marcas locais. Objetivo é fomentar os negócios (Foto: Raquel Tannuri Santana).

O empresário Fernando Fantinato Kuwahara, proprietário do Espaço Moko, é um deles. “Temos três propósitos”, explica ele. “Nossos objetivos são institucionais, comunitários e pequenos negócios locais”, complementa. Na parte institucional, a loja organiza oficinas em instituições de caridade. Nelas, artistas plásticos locais são convidados para trabalhar com as crianças, por exemplo. O resultado vira moda, com camisetas estampadas. A cada unidade vendida, outra é doada para a instituição.

Outra ação desenvolvida pelo empresário é junto com artistas plásticos locais. Eles ajudam na criação de coleções que podem ajudar, por exemplo, mulheres vítimas de violência doméstica – que tiveram seus rostos estampados nas peças. “O objetivo é levantar a autoestima dessas pessoas”, explica.

Dentro deste espírito, a loja também fomenta a economia local. “Vendemos marcas locais, de roupas, arte e objetos. Todas devem ter uma história legal”, explica. Com duas marcas paralelas, a Moko é uma empresa social. “Todos os produtos devem ser obrigatoriamente, locais. Queremos fomentar a economia local”, afirma.

 Autismo

Outra empreendedora que trabalha dentro do conceito colaborativo é a designer Bárbara Zacchi, da marca Blue Piece. Bárbara queria fazer a diferença com seu trabalho, mas na realidade foi ele quem fez a diferença na vida dela. “Me encomendaram um quebra-cabeça e a pessoa me contou que era o símbolo do autismo e eu imediatamente pensei em ganhar dinheiro. Quando comecei a pesquisar o novo mercado foi que descobri os sintomas do transtorno no meu filho. Foi aí que decidi que isso não deveria ser pra ganhar dinheiro e sim pra ajudar ”, lembra.

Bárbara já produziu e doou cerca de R$ 6,5 mil em peças em dois meses. São chaveiros, colares, pingentes e aromatizadores de carro que ela deixa em displays em lojas. A cada peça comprada, outra é doada para uma Organização não Governamental (Ong). Os preços variam entre R$ 10 e R$ 40, dependendo do produto. Bárbara costuma vender as peças em eventos que participa pela cidade. Ela ajuda onze Ongs no Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. “Sai tudo do meu bolso. O objetivo é ajudar na conscientização do distúrbio, tão difícil de ser percebido pelos pais. Mesmo porque quem diagnostica é o médico”, observa.

Agora, a designer trabalha numa nova linha, com vasos em forma de rosto. Quando se coloca a planta, ela vira um cabelo. “Para instituições que trabalham com câncer”, explica.

Bárbara e as peças da Blue Piece que ajudam 11 Ongs que cuidam de crianças autistas (Foto: Raquel Tannuri Santana).
Bárbara e as peças da Blue Piece que ajudam 11 Ongs que cuidam de crianças autistas (Foto: Raquel Tannuri Santana).

Etiquetas para plantar

De acordo com Fernando Fantinato Kuwahara, o Espaço Moko promove o cenário autoral curitibano com a junção de diferentes marcas de moda, arte e design. “Queremos ser um em estímulo a economia criativa, promovendo os pequenos negócios e levando as marcas de encontro aos consumidores que procuram produtos com histórias”, justifica. Entre as marcas comercializadas no espaço, além da marca própria, estão outras 17 marcas. Criado pela empresa social Moko, todo o lucro gerado pelo espaço é revertido para potencializar os projetos sociais da marca.

A loja foi toda montada com móveis reciclados e até as etiquetas e embalagens das roupas são diferenciadas. As tags, que são as etiquetas com a marca, são de papel reciclável com sementes de árvores e flores. É só plantar, já que o papel se decompõe na terra. As embalagens são caixas de MDF que depois viram suporte de objetos.

Bonecas para quem não tem

Boneca da One for One: compra uma e doa outra (Foto: Divulgação).
Boneca da One for One: compra uma e doa outra (Foto: Divulgação).

Outra marca que trabalha no esquema “compre um, doe outro” é a Happy Things, da empresária e designer Thayza Melo. Ela produz bonecas da linha “One for One”. A cada boneca comprada, uma é doada a uma criança carente. As bonecas vêm numa caixa transparente, são feitas em tecido e custam, em média, R$ 60.

Brasil é líder na prática

O Brasil já é o líder entre os mercados latino-americanos em iniciativas de serviços compartilhados, segundo um relatório da IE Business School, feito em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo especialistas, a economia colaborativa é uma das principais tendências de consumo deste século. O cenário atual, de poder de compra corroído pela inflação e de incertezas sobre o futuro, é um impulso à nova modalidade de consumo de serviços, explica Graciana Méndez, analista de tendências da consultoria inglesa Mintel Group. Estudo da Mintel Group aponta ainda que esse novo modelo de consumo reduz o desperdício, aumenta a eficiência no uso de recursos naturais e até ajuda a reduzir a desigualdade social.