Ele veio para a capital paranaense em 2009. “A ideia era vir pra cá para ser bem sucedido”, justifica. Veio de olho do polo automotivo que a cidade havia se transformado com a instalação das montadoras de carros. Fazia acessórios em fibra de vidro para caminhões, mas em 2015, com a quebra financeira da empresa em que trabalhava, se viu em maus lençóis. “Morava num quartinho e o dinheiro acabou. Entre estudar e morar preferi estudar”, relata.
Enquanto estava morando na rua, Fernandes ganhou uma bolsa de estudos no Senac para realizar cursos de gastronomia e, com o dinheiro que recebia com os trabalhos na área, conseguiu se reerguer. “Aluguei uma casinha para mim e saí da rua”, lembra. No curso, preferiu omitir sua condição, com medo de perder a bolsa. Era no Senac que tomava banho e almoçava. À noite, jantava graças à solidariedade de grupos que distribuem comida para os sem-teto. “Mas com o passar do tempo as coisas foram melhorando”, diz.
Foi com o dinheiro de um bico aqui e outro ali que ele então desenvolveu o protótipo de um acessório automotivo para ser instalado nos cantos traseiros dos veículos, com a finalidade de melhorar a qualidade do som no carro. “Apesar de tudo, não tinha condições de trabalhar na área, já que não tinha um endereço fixo”, lembra. Foi então que teve uma ideia: levou o protótipo à Intec, mas como não era formalizado, não pode participar do processo seletivo.
Acessórios
A equipe técnica da incubadora entrou no negócio e deu suporte para Fernandes abrir sua empresa, assim como ajudou a formular o plano de negócios para ser apresentado na banca da Intec. Aprovado no processo, hoje o empreendedor já tem seus planos traçados. “Quero desenvolver acessórios personalizados para oferecer ao gosto do cliente. Já estou em contato com lojistas da área automotiva e concessionárias e a receptividade está sendo muito boa”, salienta.
No início do mês, Fernandes assinou o contrato de incubação para se instalar no Instituto de Tecnologia do Paraná. Ele irá incubar sua empresa, a Vuk Personal Parts, na Incubadora Tecnológica do Tecpar (Intec).
O diretor-presidente do Tecpar, Júlio C. Felix, destaca a superação pessoal de Fernandes e ressalta a diversidade de negócios que são apoiados pela incubadora. “Tem uma canção do Raul Seixas, ‘Tente Outra Vez’, que fala sobre ter fé e perseverança, características que um empreendedor deve ter e que Fernandes tem. A entrada dele na incubadora reflete a diversidade das competências da instituição”, avalia.
O gerente dos Parques e Incubadoras Tecnológicos do Tecpar, Gilberto Passos Lima, explica que com o apoio da Intec o empreendedor pode dar escala ao negócio. “Vamos dar suporte na implantação de tecnologias ao seu processo de desenvolvimento, com o uso de scanner e impressora 3D, disponíveis em nosso laboratório de prototipagem. Com isso, ele vai deixar de produzir artesanalmente para ganhar escala com seus produtos”, explica.
Saiba mais sobre a Vuk Personal Parts aqui
Intec
Empreendedores que queiram participar do programa de incubação do Tecpar podem fazer, ao longo do ano, a inscrição para concorrer a uma vaga em uma das duas unidades da Intec, em Curitiba e em Jacarezinho. São ofertadas vagas para a modalidade residente (quando a empresa fica nas dependências da Intec) e para a incubação não residente, quando o empresário não se instala na incubadora, mas conta com o apoio dos especialistas do instituto.
Podem participar do processo de incubação pessoas físicas, como universitários, pesquisadores e empreendedores que tenha um negócio inovador, ou ainda pessoas jurídicas. Ao longo de 27 anos, a Intec já deu suporte tecnológico a mais de 90 negócios. No momento, cinco empresas passam pelo programa de incubação: Beetech/Beenoculus, Werker, i9algo, Invento Engenharia e Vuk Personal Parts.
Conheça a Intec pelo site
“Eles não incomodam”
Jane de Souza trabalha na Loja Assel há 18 anos. E neste tempo todo convive com os moradores de rua da região. “Todos os dias vou embora triste e feliz ao mesmo tempo. Triste pela situação que vejo e feliz por estar voltando para uma casa confortável”, justifica.
Calcula-se que pelo menos 30 pessoas vivem em situação de rua no local. Jane observa que o número vem aumentando nos últimos anos. “Acho que é a situação do país”, avalia.
Todos os dias, ao fechar a loja ela vê um batalhão se acomodar na marquise da loja. “Eles são educados e não sujam nada. Ao contrário, sempre dizem que estão cuidando da loja pra gente. Não incomodam”.
Para ela, o caso de Fernandes é atípico. “Não é todo mundo que tem essa força de vontade. Ele sempre foi educado, não arrumava encrenca. Dava para ver que era diferente”, observa.