Ou o governo se livra dos acusados, ou o acusado passa a ser o próprio governo. A frase de José Agripino, líder do PFL, transcende os umbrais das questões meramente políticas para adentrar no terreno sério das denúncias que, além de apuradas, precisam ser muito bem explicadas à nação.

Estamos falando de três ou quatro nomes de peso da área econômica do governo. Primeiro veio Luiz Augusto Candiota, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central. Não sobreviveu à denúncia de falta de seriedade com o fisco. Com ele, ficou pendente o caso do próprio Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. Suas explicações ensaiaram a tese que quer convalidar o conflito de dados fornecidos antes e depois de ter assumido o cargo. O governo por ora se deu por satisfeito, mas as explicações não convenceram. Agora explode com toda a força o caso do presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, que também teria contas no exterior sem o conhecimento da Receita Federal.

Abra-se um parêntese para dizer que a Receita Federal está orientada para apertar o torniquete sobre os contribuintes menores, numa ação alternativa à vigorosa reação popular contra novos aumentos na carga tributária, já nas alturas. Assim, enquanto a malha fina pega assalariados e profissionais liberais de todos os calibres, não pode haver vistas grossas para grandes sonegadores, gente que movimenta milhões à margem dos humores do Leão da Receita.

Enquanto o assunto ferve nos corredores do Congresso, o presidente Lula entra na parada e faz, pela mídia, a defesa prévia de seus assessores. Atribui as denúncias a insatisfeitos com a política econômica que, a seu ver, está em boa fase e com bons resultados. Repete, assim, o erro que cometeu, logo no começo de seu governo, com a “companheira” Benedita da Silva em suas orações financiadas pelo erário público em território argentino. Se no caso do ministro José Dirceu, da Casa Civil, a operação abafa deu certo até aqui, fica cada vez mais insustentável o discurso cheio de ética antes praticado pelo partido e com o qual chegou ao governo.

Não faz a mínima diferença a observação presidencial segundo a qual “alguns já não querem mais discutir economia e preferem falar de outra coisa, porque o crescimento da economia e as perspectivas de crescimento futuro são inegáveis”. Seria o mesmo que dizer que denúncia de corrupção só pode acontecer em tempos de vacas magras…

Há que se considerar também que a onda denuncista (mas quem garante que são apenas denúncias?) vem mais das hostes do governo que dos diversos partidos de oposição. É bem verdade que esta, no dizer do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, está sendo bastante benevolente. Mas para justificar tanta briga na cozinha, também não basta a explicação que os vazamentos ocorrem dentro de um clima de renhida disputa pelo poder. Ora, é também na disputa pelo poder que os contendores procuram quebrar os telhados que são de vidro.

Ocorre que as denúncias envolvem nomes reais, números exatos, agências específicas, datas certas, entre outros indícios que dão aos fatos denunciados a aparência de coisa factível. Tão factível que o senador Eduardo Suplicy entende ser imprescindível que Meirelles compareça voluntariamente ao Senado para dar as explicações necessárias. O mesmo poderia ser dito do presidente do Banco do Brasil. Principalmente porque se argúi à boca pequena que esta seria apenas uma das pontas visíveis do grande iceberg que dormita atrás do biombo instituído pela CPI do Banestado, com uma relação de condestáveis de todos os calibres e naipes à espera de que tudo termine em pizza.

Seja como for, o governo está emparedado pelas novas denúncias que brotam a partir do mais alto escalão. Apurá-las e esclarecê-las é o mínimo para que se volte pelo menos a ter a sensação de que estamos tratando com gente séria.

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