Elvis não morreu!

Calma, não vai se falar aqui de marcianos, de teorias conspiratórias ou fantasmas de Memphis. É que, depois do que aconteceu semana passada em Nova York, tudo é possível nesse extraordinário mundo do show-business. Após noites lotadas de espetáculos de um Frank Sinatra holográfico e em imensos telões, pode ter certeza que John Lennon, Kurt Cobain, Jim Morrison e, é claro, Elvis Presley vão voltar aos teatros. E vão voltar a fazer sucesso.

Para quem não viu, a explicação: o Radio City Music Hall, lendária casa de shows de Nova York, usou seu imenso espaço para estrear um novo tipo de espetáculo. Pegou gravações antigas de Frank Sinatra na televisão e no cinema, tratou-as digitalmente e projetou-as em gigantescas telas, que só poderiam ser colocadas lá, pela forma do teatro.

Reuniu-se então uma big-band recheada de bambas do swing e do jazz, comandada por John Pizzarelli, e um grande corpo de baile para deixar o show com cara de Broadway. Foram feitas adaptações dos arranjos clássicos de Sinatra, com o intuito de agregar alguma coisa moderna às obras de arte que Nelson Riddle concebeu nos anos 50. E, com essa mistura, a princípio maluca, fez-se o espetáculo.

E foi um sucesso estrondoso. Casa cheia na primeira semana, e, para surpresa de alguns, a maioria do público era jovem, curiosa por ver maravilhas tecnológicas e por conhecer aquele que é considerado “A Voz”, mas que eles só ouviram cantando Strangers In The Night, My Way e New York, New York. Conheceram a melhor parte do songbook americano e descobriram o porquê do título dado a Sinatra.

E, claro, maravilharam-se com a proposta do show, que reunia um cantor virtual com uma orquestra real, guiada pela guitarra de Pizzarelli. E com aquelas coreografias tão americanas que às vezes se tornam meio falsas, mas que eles adoram. Sinatra, naquele momento, estava mais vivo que nunca, e se tornando novamente pioneiro no mundo do entretenimento. Nada mais natural que o primeiro megastar planetário fosse o primeiro cantor a dar um show mesmo que não estivesse no local da apresentação, ou mesmo vivo.

E quem teve a idéia percebeu que tem ouro puro nas mãos. Se Sinatra, que não é tão cultuado quanto outros astros, conseguiu parar o mundo com uma apresentação virtual, imagine os que são quase tratados como santos. Os quatro citados acima são alvos certos dessa mania mórbida e milionária que está prestes a dominar os Estados Unidos e, por conseqüência, o mundo. Daqui a pouco, o Brasil terá seus espetáculos virtuais de Raul Seixas, Renato Russo e outros tantos.

E isso é prova que não há limite para quem pensa em negócios. Por mais que se admire Sinatra (como o escriba) e outros, é estranho pensar que você vai sair de casa para ver, em um teatro, um show inédito de um artista que morreu há cinco, dez ou trinta anos. E por mais que exista mercado para essa nova corrente do showbiz, fica claro que há gente que não se preocupa em lucrar com a saudade alheia, e disposta a ressuscitar muita gente nos próximos anos.

Cristian Toledo

(globalizacao@pron.com.br) é repórter de esportes em O Estado.

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