Eleição de Paulo Coelho completa quadro de imortais da ABL

Com a eleição do escritor Paulo Coelho para a cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras, vencendo o cientista político Hélio Jaguaribe por 22 votos a 15, com um anulado, o quadro está completo, com todas as 40 vagas ocupadas por intelectuais (ou considerados como tal) de diversas tendências. É fato raro nos últimos cinco anos, como atesta o professor Arnaldo Niskier, ex-presidente da casa dos imortais: ?Eh… ultimamente a gente tem morrido muito.?

O pluralismo que acirrou essa eleição é motivo de orgulho dos acadêmicos. Para eles, foi uma vitória ter de fazer duas eleições para se decidir pelo escritor que mais vende livros no Brasil, mas desagrada aos críticos literários, e a quem se define como intelectual, preterindo Jaguaribe, o professor e pensador que explicou o Brasil aos brasileiros, mas foi pouco lido por eles. Esse pluralismo permitiu a alternância de ideologias da cadeira 21, desde seu fundador, o abolicionista e republicano José do Patrocínio até o dramaturgo de esquerda Dias Gomes e o economista da direita Roberto Campos.

?Agora foi a disputa do preferido no mundo contra o preferido da academia?, disse o imortal Marcos Almir Madeira, expert em eleições e em fazer vencer seus candidatos. O pleito deve mesmo ter mexido com os imortais mais do que o habitual, pois o comparecimento ao Petit Trianon, na última quinta-feira, foi recorde: 23 acadêmicos, inclusive o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, figura rara no chá das quintas-feiras. ?Não poderia faltar a uma decisão como essa?, explicou ele, sem dizer em quem votou.

Se comparada com a eleição de Zélia Gattai, viúva de Jorge Amado que foi para o lugar dele, por quase unaminidade, no fim do ano passado, a chegada de Paulo Coelho foi realmente tumultuada. Na etiqueta da ABL, após a eleição, os acadêmicos se dirigem à casa do neo-imortal, que os recebe com comes e bebes (houve uísque 12 anos e champanhe francês, na casa de Paulo Coelho, na última quinta-feira). Só que faltou gente, entre eles alguns que não declararam voto, como Evandro Lins e Silva, João Ubaldo Ribeiro (que não foi à sessão), o escritor Josué Montello e o ex-ministro Oscar Dias Correia. Não fica bem perguntar o motivo da ausência, mas a dúvida permanece.

No quesito delicadeza, Paulo Coelho chegou inovando, como caçula da imortalidade, aos 55 anos. Tão logo soube de sua eleição, tentou falar por telefone com Jaguaribe. Não conseguiu, mas pretendia agradecer pela disputa. ?Vencê-lo enobrece minha ida para a Academia porque ele deu uma enorme contribuição à cultura brasileira?, disse Coelho. Agora, a próxima festa será a posse do jurista e historiador Raymundo Faoro, em 10 de setembro, na cadeira que foi de Barbosa Lima Sobrinho. Esses dois sim, unanimidades dentro da imortalidade.

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