Elegendo otários

O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, mandou arquivar o pedido de intervenção federal no Espírito Santo. Errou Brindeiro e errou o governo, que considerou a medida demasiado grave. O fato, ou melhor, a omissão teve conseqüências imediatas. O ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, vários altos membros de sua equipe e a cúpula da Polícia Federal renunciaram. Mas a conseqüência mais grave foi o aumento da ousadia dos criminosos, que, naquele Estado, ameaçam advogados e autoridades e estão presentes no Poder, inclusive ocupando a presidência da Assembléia Legislativa. O deputado José Carlos Gratz, do PFL, ocupa o comando da Casa pela terceira vez consecutiva e controla 28 votos de deputados estaduais, que, publicamente, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, chama de “otários”. “Esses otários aqui, quantas vezes eu for deputado, eles têm que votar em mim”, declarou. Ele, como confessa sem pejo, “ajuda todas as candidaturas que tiverem chances de ganhar”. Tem os otários no bolso e não lhes devota o mínimo de respeito. E nem ele nem os otários, respeitam o eleitorado capixaba.

Confessa que seu dinheiro vem de cassinos e do jogo do bicho, além de outros negócios. É acusado de comandar o tráfico de entorpecentes no Espírito Santo, o que o currículo que revela transforma em uma denúncia crível, senão muitíssimo provável. Ainda é acusado de ser mandante de assassinatos.

Ele é ligado ao governador do Estado, José Ignácio Ferreira (PTN), acusado de improbidade. Também são acusadas pessoas a ele chegadas, inclusive a própria primeira dama. Gaba-se José Carlos Gratz de ter dois bingos, restaurante, duzentas maquininhas caça-níqueis. Foi ele quem livrou José Ignácio de processo de “impeachment”. Ele nega que esteja envolvido com o narcotráfico e anuncia que será candidato a senador.

A excepcionalidade da medida de intervenção pelo governo federal em um Estado parece ter justificado o arquivamento do processo sobre o Espírito Santo. Pudores que os fatos e declarações públicas como estas do presidente da Assembléia Legislativa não recomendam. E o fato de Vitória ser a capital com maior índice de criminalidade do País, proporcionalmente à sua população, até recomenda a medida excepcional. Aliás, diante do aumento da criminalidade em todo o Brasil e da ousadia do crime organizado, ou se salva a democracia através de intervenções duras e medidas excepcionais, ou se acaba com ela através da generalização do desrespeito às leis, patrimônios e vidas, implantando governos mafiosos paralelos.

Quando verificamos que um marginal como o presidente da Assembléia capixaba se elege consecutivas vezes manipulando os “otários”, deputados que financia; e que todos são eleitos pelo povo, tapeado com escárnio por esses marginais que se introduzem na política, concluímos que alguma coisa precisa ser feita. O candidato José Serra, cuja vice é capixaba, a deputada Rita Camata, esteve em Vitória em campanha. Criticou o arquivamento do pedido de intervenção federal e disse que o PFL, partido do presidente da Assembléia José Carlos Gratz, deve negar-lhe legenda.

Neste espaço já pregamos que os partidos políticos devem ser responsabilizados quando dão legenda a criminosos. É preciso que sejam punidos estes e também aqueles. O povo não tem culpa e não pode passar por otário.

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