Educação para o trânsito

No dia 9 de maio deste ano, em Uberlândia (MG), 613 alunos da Escola Hercília Martins Rezende, pais, professores e comunidade bloquearam a Avenida João Neves de Ávila pedindo melhor sinalização e faixas de pedestres na via pública. Essas mesmas pessoas tomaram a iniciativa de pintar o muro da escola. No mesmo dia, em Caxias do Sul (RS), um grupo de estudantes lançou o programa Madrugada Viva, percorrendo bares e restaurantes para alertar sobre a importância do uso do cinto de segurança e o perigo de dirigir após o consumo de bebida alcoólica. O movimento conseguiu ainda da Prefeitura a instalação de redutores de velocidade perto de uma escola. Em Sorocaba (SP), a Prefeitura atendeu ao pedido dos estudantes de instalação de luz elétrica em uma das ruas da cidade.

Histórias como essas estão sendo escritas, diariamente, pelas mãos de 26 mil alunos de 415 escolas brasileiras que participam este ano do projeto Você Apita, um programa de ação educativa que tem por missão convocar os jovens à atuação democrática e solidária para a solução dos problemas de mobilidade emergentes para as suas comunidades. Desenvolvido pela Fiat Automóveis com o apoio da Unesco no Brasil, do Ministério da Educação e das secretarias municipais de Educação e órgãos gestores de trânsito, o projeto vem permitindo que estudantes do ensino fundamental e médio de escolas públicas e privadas, de dezoito capitais brasileiras, façam um estudo do meio onde vivem e, a partir desse diagnóstico, proponham soluções para melhorar a mobilidade e a segurança no trânsito.

A Unesco aposta em ações educativas de estímulo ao protagonismo juvenil, à mobilidade inteligente e à cidadania, como as promovidas pelo Você Apita, pela sua importância na construção de uma cultura de paz. O envolvimento dos jovens na solução dos problemas sociais contribui, de forma decisiva, para o desenvolvimento de ações que, a médio e longo prazos, resultarão na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. O contínuo investimento em programas de conscientização de jovens em áreas como trânsito, mobilidade e convívio social no espaço público irão, com certeza, fazer diferença no futuro.

Estatísticas do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) dão uma boa idéia do quanto é necessário um esforço conjunto da sociedade e dos governos no sentido de se reduzir as altas taxas de acidentes de trânsito. Em 2001, ocorreram quase 395 mil acidentes com vítimas fatais e não fatais no Brasil. O índice é de 228,9 vítimas para cada grupo de cem mil habitantes. Já o livro Mapa da Violência – Os Jovens do Brasil, de Jacobo Waiselfisz e editado pela Unesco, mostra que, de 1991 para 2000, a evolução no número de mortes por acidentes de transporte na população jovem (6,7% no período) foi superior ao da população total (3,7%).

É preciso, portanto, que a sociedade brasileira invista na formação de cidadãos mais conscientes. Cada um pode e deve fazer a sua parte. O Você Apita é um bom exemplo de parceria de sucesso entre Estado e Sociedade que deve ser seguido por outras empresas tendo como meta o desenvolvimento humano e social. Graças a essa iniciativa, foi criada no País uma extensa rede de colaboradores voluntários do projeto, que já reúne 222 parceiros. Os mais novos aliados são os estudantes universitários.

O programa tem o mérito de ultrapassar os limites da escola e envolver a comunidade na discussão de assuntos ligados à cidadania. Com isso, os jovens passam a ter uma atuação pró-ativa, democrática e solidária para a resolução dos problemas locais que afligem seus vizinhos. Eles desenvolvem a sensibilidade e observação em relação aos fatos do cotidiano, tendo cuidado e respeito com o próximo e buscando alternativas que promovam a igualdade de oportunidades de acesso e mobilidade para toda a comunidade.

Por todos esses motivos, depositamos grande confiança na parceria com a sociedade civil para, juntos, enfrentarmos o desafio de construir cenários socioeconômicos mais equitativos, em que o respeito aos direitos humanos e à diversidade se traduzam, concretamente, na vida de cada cidadão. Só a partir da soma de diferentes iniciativas sociais na área de educação, sobretudo as que envolvam crianças e jovens, será possível criar no Brasil, de forma permanente, uma rede de luta incessante em prol da cidadania e dos direitos humanos.

Jorge Werthein é doutor em Educação pela Universidade de Stanford, EUA, e representante da Unesco no Brasil (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

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