Zélia diz que referência a confisco não incomoda mais

O estigma do confisco da poupança ainda persegue a ex-ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello, mesmo após 18 anos do Plano Collor. À época, Zélia tinha 37 anos e, pela primeira e única vez, uma mulher assumia o comando da política econômica do País. Ao participar nesta terça-feira (9) do seminário comemorativo dos 200 anos do Ministério da Fazenda, em Brasília, Zélia não escapou do constrangimento, já que seus sucessores não deixaram de citar o confisco, em depoimentos prestados ao evento.

Ela admite que essas referências já incomodaram mais. Agora, aos 55 anos e com dois filhos adolescentes, disse que administra melhor as críticas. “Isso já me incomodou, mas não incomoda mais. Acho que esse assunto será sempre tocado enquanto as pessoas (os seus sucessores) estiverem vivos”, observou.

Em sua exposição, a ex-ministra que atualmente tem dupla residência – no Rio de Janeiro e em Nova York – justificou o confisco como uma necessidade diante do acúmulo de problemas, inclusive uma inflação mensal de 86%. Ela procurou minimizar a decisão do governo Collor, ao incluir a medida como apenas um dos itens de seu programa econômico. Pela televisão, instalada à sua frente, a ex-ministra ouviu seu sucessor no ministério, Marcílio Marques Moreira, bem como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além do ex-ministro Paulo Haddad que estava sentado a seu lado.

Ao exaltar o sucesso do Plano Real, uma obra de sua gestão, Fernando Henrique fez menção aos “modelos fracassados de estabilização” e experiência traumática do brasileiro que não esquecera aquela “sensação que acordou pobre”. Ele reconheceu que o momento era delicado e havia um “estado de espírito de calote. “E não tinha confisco de poupança”, disse, acrescentando que assumiu o cargo de ministro da Fazenda para pôr ordem na casa. Zélia simplesmente abaixou a cabeça e não encarou a imagem do ex-presidente na tela de TV.

Enquanto recorria ao pragmatismo – como ela mesma justifica a necessidade de o governo ter sacado recursos da poupança – e enumerava as dificuldades que enfrentou, Zélia disse que hoje é “muito mais fácil” ser ministro da Fazenda. “Muito mais”, repetiu, nas conversas com jornalistas nos intervalos do seminário organizado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.