Vulnerabilidade e dívida impedem desenvolvimento

Rio –

O país não cresce porque não consegue ajustar suas contas externas ou a vulnerabilidade externa é que impede o país de crescer? As duas coisas. Convidados para o primeiro “Encontros no Globo/A Economia em debate” sob o tema “Vulnerabilidade externa e crescimento”, quatro especialistas na área internacional deram seus diagnósticos e apresentaram soluções para que o país retome o caminho do crescimento, gere mais empregos e divisas.

O professor da FGV-SP Paulo Nogueira Batista Júnior afirma que, apesar do cenário internacional conturbado nos últimos anos (com crise do México, da Ásia e da Rússia nesse período), a vulnerabilidade externa foi um fenômeno made in Brazil. O país, disse ele, tem déficits em conta-corrente muito elevados por causa de política econômica interna, níveis de reservas cambiais insuficientes e abertura excessiva na conta de capitais: “o Brasil tem um grau de abertura exagerado para um país em desenvolvimento e que vive no mar turbulento da globalização financeira”. Ele critica a valorização cambial persistente, além de negociações comerciais que acabaram fazendo o País “tomar bola por debaixo das pernas” na OMC e no Mercosul. Para ele, a vulnerabilidade externa é a principal restrição do País na retomada do crescimento de forma sustentada. Nogueira defendeu controles seletivos na conta de capital, lembrando que a opção foi utilizada com sucesso por alguns países em desenvolvimento. Para ele, o País não está em situação extrema ? mas não descarta alguma heterodoxia: “Não vamos dizer dessa água não beberemos”.

Controle de capitais

A adoção do controle de capitais é a alternativa para enfrentar a vulnerabilidade externa, segundo o diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp, Ricardo Carneiro. Ele é a favor de restringir o movimento livre de dinheiro pelas contas de não-residentes (CC-5) e lembra que há outras formas possíveis de controle de capitais, como a quarentena e os controles prudenciais sobre os bancos, como os que vigoram em Cingapura. Lá, o dinheiro que é tomado no exterior e não é imediatamente reemprestado no País é recolhido aos cofres do Banco Central.

Para Carneiro, na raiz da vulnerabilidade brasileira está o fato de o País não ter moeda conversível (é obrigado a emitir títulos em dólar, euro ou iene), ser um exportador de commodities (soja, suco de laranja etc.) e importador de alta tecnologia. Além disso, diz, tem baixo volume de reservas em dólar, elevado endividamento e precisa pagar juros altos para atrair capital externo. O câmbio flutuante é “absolutamente insuficiente” para ajustar as contas externas. E resume: “A história é mais ou menos o seguinte: se tudo der certo, tudo dará errado”.

Falta agressividade

Para o chefe do Centro de Economia Mundial da FGV, Carlos Langoni, a vulnerabilidade externa não é um fatalismo de países em desenvolvimento. Ele citou Chile e México como dois destes países que conseguiram superar a vulnerabilidade. Langoni atribui as atuais dificuldades ao modelo de desenvolvimento, adotado ao longos do anos, baseado em endividamento do Estado, com privilégios à substituição de importações e sem estímulos a exportações competitivas. Crítico da âncora cambial usada no primeiro mandato do presidente Fernando Henrique, Langoni diz que o Brasil perdeu a idade de ouro do comércio internacional, que crescia a taxas entre 8% e 10% ao ano, ficando com as exportações estagnadas por causa do câmbio supervalorizado.

Para o Langoni, falta ao governo atual uma maior agressividade nas negociações comerciais: o País, diz, precisa dar um salto nas exportações equivalente a um crescimento anual de 10% a 15%. Isto sem descuidar das responsabilidades fiscal e monetária. Moratória e controle de capital, nem pensar: “É preciso evitar a atração fatal pela heterodoxia”.

Desequilíbrio

O Brasil está hoje entre os países com maior grau de vulnerabilidade externa. Só não está pior do que as Filipinas, diz o ex-diretor do Banco Central e atual sócio da MCM Consultores José Júlio Senna. A relação entre dívida externa líquida do país e PIB está entre 40% e 42%. Chile e Tailândia, por exemplo, têm cerca de 30%. Filipinas tem 50%.

Outro sinal de vulnerabilidade, disse ele, é o tamanho da dívida externa líquida, três vezes o valor das exportações. No Chile, é 1,3 vez. Nas Filipinas, 1,20. Na Coréia, a dívida não passa de 45% das exportações. No México, 71%. Na Tailândia, 54%. Na Malásia, 14%. Para José Júlio, a vulnerabilidade externa está associada a problemas domésticos, como a dívida líquida do setor público, que está hoje em 56% do PIB. No Chile, é 15%. No México, 23%.

Todos esses desequilíbrios aumentam o risco-país, faz bancos e empresas pagarem caro por empréstimos lá fora. E tudo isso emperra o crescimento. E, por sua vez, o País não cresce mais porque está muito vulnerável no campo externo: “Países que crescem pouco são percebidos como mais arriscados”, resumiu Senna.

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