Volkswagen anuncia cortes que podem chegar a 3.900

São Paulo 

– A Autovisão tentará encontrar vagas para os 3.933 trabalhadores em indústrias de autopeças, concessionárias e outras empresas que prestam serviços para a Volkswagen. Fará também prospecção de novos negócios que empreguem os metalúrgicos excedentes da montadora.

A nova empresa será criada no momento em que a indústria automobilística brasileira enfrenta uma de suas piores crises. Só a Volkswagen está com ociosidade de 35% na sua capacidade de produzir 3.000 veículos por dia.

Segundo a Anfavea (associação das montadoras), o número de veículos licenciados no Brasil em maio somou 101,6 mil – queda de 10,3% em relação a maio de 2002. Em comparação a abril, houve retração de 1,2%.

Várias montadoras se preparam para fazer cortes devido à estagnação da economia. A General Motors afirma que precisa dispensar 600 funcionários na unidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo. A empresa abriu um programa de demissões voluntárias no final de junho, mas apenas 70 metalúrgicos aderiram.

Segundo a Volkswagen, sua nova empresa de recolocação de pessoal foi inspirada na Autovision AG, criada em 1997 na cidade de Wolfsburg, onde fica a sede do conglomerado, na Alemanha.

Desde então, cerca de 15 mil trabalhadores da Volkswagen alemã e mesmo de outras empresas que não pertencem ao grupo automobilístico foram recolocados pela Autovision AG.

Governo

O projeto da Autovisão Brasil foi apresentado na sexta-feira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).

Representantes da Volkswagen, como Peter Hartz, responsáveis pelos negócios do grupo na América do Sul e na África, e Paul Fleming, presidente da empresa no Brasil, participaram do encontro, em Brasília.

Para Hartz, a Autovisão deve recolocar a grande maioria do excedente de funcionários da Volkswagen em novos empregos.

As montadoras têm anunciado a necessidade de cortar pessoal justamente no momento em que negociam com o governo um plano para estimular a renovação da frota de veículos no país. O objetivo é aumentar as vendas internas.

Plano emergencial está morto

O plano emergencial para renovação da frota está morto e mesmo que estivesse vivo resolveria apenas parte do problema. Segundo o presidente da Volkswagen no Brasil, Paul Fleming, as negociações entre empresas e governo para criação de um plano de incentivo à venda de automóveis foram encerradas.

O executivo esteve na última sexta-feira com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, o principal negociador e entusiasta por parte do governo do plano de renovação de frota.

A renovação de frota seria uma forma de reduzir o impacto da redução do consumo de veículos nas montadoras e também no nível de emprego. Os fracassos nas negociações já geraram respostas das montadoras: ameaças de redução de mão-de-obra.

Na semana passada, a GM informou aos funcionários a necessidade de um corte de 600 trabalhadores na unidade de São José dos Campos. As demissões ocorrerão por meio do PDV (Programa de Demissão Voluntária).

Ontem começaram as férias coletivas de 1.000 empregados da Fiat em Betim (MG). A montadora havia anunciado a redução da produção no início do mês e somando com duas paradas técnicas o objetivo é produzir 25% menos este mês para ajustar os estoques.

Acordo impede intenção da empresa

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopes Feijóo, disse que não aceitará a criação da nova empresa da Volkswagen para administrar o excedente de quase 4.000 funcionários das unidades de São Bernardo do Campo e Taubaté. Segundo ele, a companhia fechou um acordo de estabilidade no emprego com o sindicato que termina no final de 2006. “Existe um acordo que precisa ser cumprido. Falar em excedente hoje é inaceitável”, disse.

Feijó afirmou que a Volkswagen está trabalhando com o cenário atual do setor automotivo, isto é, retração nas vendas. Mas segundo o sindicalista, a montadora começará a fabricar em janeiro de 2005 a versão exportação do projeto Tupi e no biênio 2006/2007 entrará em fabricação uma nova família de veículos. Essas duas novidades serão suficientes para absorver a mão-de-obra total da montadora hoje.

“Os juros já começaram a cair e a montadora está trabalhando com um cenário que não prevê crescimento para os próximos anos. É uma bobagem falar em excedente hoje, pois esses funcionários serão necessários depois. Além disso, a montadora já possui ferramentas para driblar a queda na produção como banco de horas e semana de quatro dias”, afirmou o sindicalista.

O sindicato realiza hoje, às 15h, uma assembléia na porta da fábrica de São Bernardo do Campo. “Se a Volkswagen quiser investir na criação de novas empresas, esses investimentos serão bem vindos. O que não aceitaremos é a transposição de mão de obra e de um modelo que deu certo na Alemanha”, disse referindo-se a importação da Autovisão, empresa que pretende realocar 3.933 funcionários da Volkswagen no Brasil. A companhia está investindo R$ 320 milhões para conseguir em quatro anos retirar essas quase 4.000 pessoas da sua folha de pagamento.

Em 1997 a empresa enfrentava um problema na Alemanha de excedente de 30 mil pessoas. Para evitar um impacto maior na economia daquele país, a VW criou a Autovision e conseguiu ultrapassar a crise sem maiores estragos na sua imagem corporativa.

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