Vice-campeão dos juros altos

São Paulo – A redução de 0,25 ponto percentual na Selic foi criticada por empresários, sob o argumento de que esse gradualismo por parte do Banco Central só joga para a frente a possibilidade de retomada da economia. Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, a redução ficou aquém do que poderia ser efetivada diante dos indicadores da economia interna e do ambiente externo, que se mantém sereno. “A decisão tem impacto direto nos custos e na dívida, e indireto na percepção por parte dos agentes produtivos. Por isso, é um tema tão caro para a indústria”, disse Piva.

Vice-líder

O corte do Copom tirou o Brasil da liderança do ranking mundial das maiores taxas de juro real (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses), segundo a consultoria Global Invest. Com a redução, a taxa real cai de 10,2% para 10% ao ano. Assim, a Turquia assume o primeiro lugar do ranking e o Brasil passa a ocupar a segunda colocação.

Apesar do recuo, o País continua com taxas bem superiores aos demais países da América Latina, como Chile (2,5%), Colômbia (1,5%) e Argentina (-0,5%). A média geral dos 40 países analisados pela consultoria é de 2,2% e a dos países emergentes, de 4%. O economista da Global Invest Alex Agostini explica que, para incentivar investimentos, a taxa de juro real brasileira precisa cair para no mínimo 8% ao ano.

Ele explica que os juros reais elevados “direcionam investimentos do setor produtivo para o setor financeiro e mantêm a renda e o emprego debilitados”.

Cautela demais

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Armando Monteiro Neto, criticou o excesso de cautela em relação à trajetória da inflação. “Essa queda não cria condições favoráveis para um processo de retomada da atividade econômica.”

Para Júlio Sérgio de Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o governo pode cair na própria armadilha do excesso de gradualismo. “Quando decidir ser mais arrojado, as condições externas e internas poderão não ser tão favoráveis.”

Comércio

Grandes redes de varejo descartaram por enquanto a possibilidade de reduzir juros. Mesma percepção têm os bancos das montadoras, que acham que atualmente já operam com taxas competitivas.

A Loja Cem só alteraria taxas, que hoje variam de 0,99% a 4,2% ao mês, se o corte fosse acima de 0,5 ponto. “As vendas estão fracas, mas não dá para mexer nas taxas e nem em prazos com uma queda de 0,25 ponto. É muito pouco”, disse o supervisor-geral da empresa, Valdemir Colleone. Casas Bahia, Pão de Açúcar e Carrefour também não pretendem modificar tabelas no curto prazo.

O Bradesco anunciou ontem a redução de suas taxas de juros. A redução atinge os empréstimos para clientes pessoas físicas e pessoas jurídicas.

Segundo o Bradesco, na pessoa física, os juros do cheque especial caíram de 8,08% para 8,06%, na máxima, e de 3,00% para 2,99%, na mínima. As taxas do crédito pessoal foram reduzidas de 5,59% para 5,57%, na máxima, e de 3,18% para 3,16%, na mínima.

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