Vendas no crediário embutem juros altos

Os planos promocionais de pagamento em até seis vezes sem acréscimo em lojas de eletrodomésticos, celulares ou vestuário podem embutir juros de até 10% ao mês. Para perceber essa taxa oculta, basta o consumidor investir numa boa negociação com o vendedor para conseguir o pagamento à vista com descontos que podem chegar a 13% sobre o preço anunciado.

Essa taxa oculta foi registrada, por exemplo, na compra de um fogão Dako Civic, na Arapuã, por R$ 316, 50 em parcelamento de cinco vezes sem juros no cartão de crédito ou em três no cheque pré-datado. No acerto para pagar à vista, o cliente leva o produto por R$ 275. Essa diferença registra que o valor esconde a taxa de 10,3%, segundo os cálculos do economista Luis Carlos Ewald, professor da Fundação Getúlio Vargas

Pesquisa feita semana passada em seis grandes redes, com lojas no centro do Rio, atestou que os clientes mais insistentes sempre obtêm descontos pagando na hora os produtos oferecidos parcelados sem juros. No Ponto Frio, a geladeira Brastemp (380l) anunciada por R$ 1.698, ou em quatro vezes, sai por R$ 1.600 (desconto de 5,77%); nas Casas Bahia, a TV Semp Toshiba, no encarte por R$ 1.494, ou em seis vezes, fica por R$ 1.394 na negociação com o vendedor (6,6% mais barata).

? Para quem pode juntar e comprar à vista, a negociação exaustiva vale a pena. Os descontos já foram maiores e há redes que não dão abatimentos. Mas, normalmente, o consumidor se endivida porque não dispõe do dinheiro para pagar à vista o produto desejado ? explicou Luis Ewald, lembrando que as redes que oferecem crediário sem juros mais longos são as de preços mais altos.

Para minimizar o impacto dos juros anunciados ou embutidos, ele faz quatro recomendações básicas antes da compra: verificar bem as características do modelo escolhido; pesquisar os preços à vista, mesmo que a preferência seja pelo crediário; ver os valores nas lojas com parcelamentos iguais, e comprar nas que tiverem a menor prestação ao consumidor. Segundo ele, esses passos podem evitar prejuízos às pessoas que não sabem calcular o peso dos juros sobre os valores registrados.

? Numa compra feita em duas parcelas e cujo desconto à vista é de 10%, o juro chega a 25%. O consumidor deve estar atento a isto.

Para o economista, as empresas já devem estar reunindo suas equipes financeiras para avaliar os reflexos do aumento da taxa básica de juros (Selic) de 22% para 25% ao ano. Ele acredita que as mudanças só deverão vir em janeiro, mas elas dependerão do comportamento da demanda. O crediário mais caro vai reprimir o consumidor e esse foi o objetivo do governo ao subir a taxa.

? A inflação atual é mesmo de custo, mas se deixarem a demanda acelerar, o quadro pode acelerar.

Com o 13.º salário no bolso, os consumidores estão indo às compras e a opção pelo crediário, no sistema sem juros, é o mais procurado. É o que pensa a estudante Débora Marques Paulo, que se presenteou com um celular neste Natal. Vai pagar seis parcelas de R$ 98,60. Ela admitiu que preferia levar à vista, mas, mesmo com a vantagem da redução, não teria toda a quantia.

? As lojas facilitam, mas sempre ganham alguma coisa ? frisou.

Após atravessarem uma fase recessiva nas vendas, as lojas voltaram a ampliar o crediário para atrair, sobretudo, os clientes de baixa renda. As taxas em 12 vezes variam de 3,99% ao mês (59,97% ao ano) a 8,10% (154,63%). Na expectativa de melhorar o movimento no período natalino, nenhuma rede se arriscou a mudar as tabelas. Mas vão esperar a reação das financeiras e poderão fazer alterações sob a forma de redução dos prazos.

Temendo o aumento dos preços por causa dos juros, a doméstica Arlinda Fátima da Conceição, depois de pesquisar muito, comprou no Ponto Frio um DVD para a filha e uma TV de 20 polegadas para a mãe. Vai pagar 12 prestações de R$ 159, sem entrada.

? Sei que os juros estão absurdos e o pobre é o mais prejudicado. Mas é o que posso pagar.

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