Mais de dois terços dos investimentos previstos para o Brasil entre 2018 e 2021 sairão do caixa de Vale e Petrobrás. Com a recessão que assolou o País nos últimos três anos e derrubou a taxa de investimentos, as duas gigantes nacionais ganharam mais peso na economia interna. Dos R$ 367 bilhões programados para os próximos quatro anos, quase R$ 200 bilhões são do plano de negócios da estatal de petróleo e R$ 44 bilhões, da Vale.

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Diante da forte concentração, quatro Estados ficarão com 76% dos investimentos previstos para o período: Rio de Janeiro, Pará, São Paulo e Espírito Santo – locais que abrigam grandes projetos de Vale e Petrobrás. No Rio, por exemplo, 83% dos investimentos previstos são da petroleira, e, no Pará, 88% da mineradora, segundo levantamento feito pela consultoria AFranco Partners (AFPartners), que mapeou os megaempreendimentos a serem erguidos no País nos próximos quatro anos.

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Foram considerados no trabalho apenas projetos em estágio mais avançado, como aqueles que já têm licenças ambientais ou que já estão em construção. O economista Augusto Franco, autor do estudo, destaca que, por estar saindo de uma forte recessão, o volume de investimento deve ser visto como positivo. Com a retomada, diz ele, o quadro deverá melhorar e novos empreendimentos serão incorporados a essa lista, que hoje soma 266 megaprojetos.

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Mesmo assim, a expectativa é de que a concentração dos investimentos continue por mais algum tempo. “Os leilões (de petróleo) devem trazer novas empresas, mas a Petrobrás continuará sendo a maior investidora do Brasil”, afirma o economista Cláudio Frischtak, da consultoria Inter.B. Segundo ele, o grande volume de investimentos nas mãos da empresa não é um problema, desde que a estatal não seja capturada por interesses políticos, como ocorreu no passado.

Com a Operação Lava Jato e o envolvimento num esquema de corrupção, a companhia sofreu um forte revés que derrubou os investimentos e paralisou várias obras. Isso devastou a economia de Estados e municípios – um reflexo da dependência pelos projetos da estatal, que não quis se pronunciar para a reportagem.

Mesmo com o enxugamento no plano de negócios após o escândalo, os investimentos da companhia serão muito importantes para ajudar a economia a retomar o rumo do crescimento, afirma o superintendente de Estatísticas Públicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Aloisio Campelo Jr.

Dinâmica interna

Além da dependência do País pelas cifras de Vale e Petrobrás, o mapeamento feito pela AFPartners expõe a paralisia de investimentos em vários setores, como o de infraestrutura, que são mais espalhados pelo País. Além da crise fiscal, que reduziu o volume de recursos dos governos federal e estadual, a iniciativa privada se retraiu com as incertezas políticas e com a economia mais fraca.

O que sobrou são projetos com pouca relação com a dinâmica interna, como os projetos da Vale, que dependem da demanda internacional, afirma o economista da Tendências Consultoria Integrada, Felipe Beraldi. Na opinião dele, essa é uma das explicações para a atual desigualdade de investimentos entre os Estados. De qualquer forma, diante do cenário de retomada econômica, o importante é ter investimento, independentemente da localização. “Além disso, pela magnitude dos projetos, há um efeito indireto positivo dentro da região onde o empreendimento está localizado.”

Mas, enquanto alguns Estados se beneficiam dos planos de negócios de Vale e Petrobrás, outros estão à míngua. O levantamento da AFPartners mostra que, juntos, Amapá, Acre, Roraima, Rondônia e Paraíba, além do Distrito Federal, somam apenas 1% do volume total de investimentos. “Não vejo problema de um país focar em determinados projetos ou setores; poucas nações no mundo têm capacidade de produzir tudo em todas as cadeias”, afirma o economista da MB Associados, Sérgio Vale.

O que não pode, pondera ele, é não resolver os demais problemas, como o de Estados que não têm riquezas minerais para explorar e não conseguem atrair grandes empreendimentos. Nesses casos, é preciso focar na inovação e abrir a economia para que regiões como o Nordeste possam ter condições de competir. De acordo com o mapeamento da AFParters, a região deverá receber 9% do volume total previsto. Esse número seria ainda menor, não fosse pela onda de investimentos em energia elétrica, como os parques eólicos e solares que estão sendo desenvolvidos na região. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.