O Tribunal de Contas da União (TCU) espera liberar, na próxima semana, a assinatura do contrato de concessão da hidrelétrica Três Irmãos, no rio Tietê. Com isso, será encerrada uma novela que envolveu, de um lado, uma disputa entre o governo federal e o Estado de São Paulo, sobre quem seria responsável pelas estruturas da usina usadas para a navegação e, de outro, uma briga societária iniciada depois que um dos vencedores do leilão de concessão foi flagrado em investigações da Polícia Federal sobre lavagem de dinheiro.

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“Ainda está na área técnica, mas acho que poderemos liberar nesta semana ou na outra”, disse o ministro do TCU José Jorge ao jornal O Estado de S. Paulo. Foi dele a decisão de suspender a assinatura do contrato de concessão, no mesmo dia em que o leilão foi realizado, por causa da dúvida sobre quem responderia pela eclusa e canais que fazem parte do complexo hidrelétrico e são utilizadas na hidrovia Tietê-Paraná. O posicionamento de Jorge foi depois confirmado por unanimidade pelo plenário.

A celeuma foi resolvida depois de o governo federal se propor a assumir a responsabilidade das estruturas de navegação, seguindo o entendimento adotado em 2 de junho pelo TCU. Segundo Jorge, o Ministério dos Transportes informou ao tribunal que assinará contrato com os novos concessionários, que vão administrar as estruturas mediante uma taxa. Com isso, o problema que impedia a assinatura do contrato foi superado, avaliou Jorge. “Isso mostra que eu tinha razão em dar a cautelar”.

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A suspensão da assinatura do contrato nem chegou a atrasar o cronograma da concessão. Desde o início do processo, antes mesmo da decisão do TCU, a previsão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) era que a documentação do contrato seria enviada ao Ministério de Minas e Energia no fim de agosto e a assinatura do contrato ocorreria no início de setembro.

Constantinopla

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Na terça-feira, 29, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou sem restrições a transferência, para a Triunfo Participações e Investimentos, das cotas do fundo Constantinopla que estavam em poder de empresas controladas pelo empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-secretário de Assuntos Estratégicos no governo Fernando Collor (1990-1992). O Constantinopla é sócio da estatal Furnas no consórcio Novo Oriente, que venceu o leilão de Três Irmãos.

Numa disputa que correu em paralelo ao imbróglio sobre as estruturas de navegação, Furnas atuou nos bastidores para livrar-se de seu sócio. Isso porque, dias depois de sua parceria com Leoni Ramos haver saído vencedora no leilão de Três Irmãos, o empresário foi citado em relatórios da Polícia Federal na operação Lava Jato, de repressão a lavagem de dinheiro.

Ele seria, segundo suspeitas dos investigadores, sócio do doleiro Alberto Youssef no laboratório Labogen. Além disso, uma de suas empresas, a Investminas, aparece numa planilha de pagamentos à consultoria M.O. – que seria, segundo suspeitas da PF, uma espécie de “banco” do doleiro.

Diante do noticiário policial, Furnas passou a pressioná-lo a desistir do empreendimento e saiu em busca de um novo sócio. Leoni Ramos resistiu, mas cedeu depois que a estatal declarou ao governo, unilateralmente, sua concordância em operar a eclusa e os canais da hidrelétrica. Era algo que não estava no plano de negócios da concessão.

Embora o caminho para a assinatura do contrato de concessão esteja aberto, a confusão em torno de Três Irmãos não acabou. A usina está hoje no centro de uma disputa sobre o uso da água. A longa estiagem colocou em pauta uma discussão sobre o que deve ser priorizado: geração de energia, consumo ou transporte. Além disso, a antiga concessionária da usina, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), ingressou na Justiça Federal com ação questionando o valor pago pela União para remunerar os investimentos feitos na hidrelétrica. Colaborou Luci Ribeiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.