Rio Grande, no Rio Grande do Sul, virou palco de um protesto inusitado. Desde a madrugada da última terça-feira, 23, o sindicalista Benito Gonçalves permanece amarrado às grades de proteção da portaria do Estaleiro QGI, um consórcio constituído pelas empresas Queiroz Galvão e Iesa para atuar no setor naval. Benito, que é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos na região desde 2012, diz que “foi obrigado a este ato de desespero”, que inclui enfrentar noites geladas do inverno gaúcho, a 3 graus, para protestar contra a “amarração” criada pela Petrobras na região.
Há oito meses, Petrobras e QGI não chegam a um acordo sobre o prazo de entrega e o valor a ser pago por alterações feitas no projeto básico de duas plataformas já encomendadas, as P-75 e P-77. Quando o contrato foi assinado, em setembro de 2013, o investimento previsto era de US$ 1,6 bilhão. As alterações feitas, tanto a pedido da estatal quanto por sugestão do estaleiro, elevaram o investimento em quase 8% e criaram um impasse que paralisa a produção, pois o estaleiro não tem condições de assumir os riscos do negócio sem garantia de pagamento. O grupo controlador de uma das sócias, a Iesa, inclusive, pediu recuperação judicial após ser envolvida na Operação Lava Jato.
O estaleiro já entregou quatro outras plataformas e chegou a empregar 12 mil trabalhadores. Hoje tem menos de 200 empregados. Há uma onda de demissões nos dois outros estaleiros da região: o Ecovix, subsidiária da Engevix Engenharia, e o EBR, do grupo Toyo Setal. Ou seja, são controlados por empresas que também sob investigação na Lava Jato. Mais de 10 mil operários estão desempregados. Pelo menos 4 mil poderiam estar trabalhando no QGI se não fosse a indefinição. Na última sexta-feira, tudo indicava que o acordo seria fechado, mas na última hora as partes voltaram à estaca zero, sem previsão para retomar as negociações.
“A situação dos desempregados aqui é dramática e só me restou este ato de desespero para chamar a atenção sobre o que estamos vivendo”, diz Benito. Segundo o sindicalista, ele mesmo está perdendo a credibilidade por acreditar nas promessas de que o impasse não se prolongaria. “A presidente Dilma esteve duas vezes no Estado e garantiu que a coisa iria ser resolvida: eu endossei, mas até agora nada”, diz Benito. O sindicalista também reclama dos políticos. “Visitei deputados e senadores em Brasília, mas eles não se interessam com o destino de quem realmente está sendo prejudicado pela roubalheira na Petrobras”, diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.