“Turbulência testa atuações de BCs no mundo”, diz Meirelles

Os Bancos Centrais de todo o mundo vivem neste momento de turbulência internacional um período de teste de suas atuações em meio a um sistema financeiro globalizado, com desenvolvimento tecnológico e em meio à abertura de mercados. A avaliação foi feita ontem à noite pelo presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, durante a abertura do 3º Congresso Internacional de Derivativos e Mercado Financeiro, realizado em Campos de Jordão (SP) pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). "Evidentemente, agora estamos em meio a um processo de teste dessa nova estrutura e as variações de humor do mercado refletem mudanças de expectativas", afirmou.

Meirelles lembrou que as crises mais recentes vêm sendo marcadas pelo que chamou de colapsos eventualmente regionais ou eventualmente pontuais de alguns segmentos. No caso de um problema com o crédito, ele explicou que à medida que havia uma reprecificação forte de ativos, canais específicos passavam a ter sua estrutura de trabalho interrompida e, em função disso, conseqüências econômicas importantes.

"Mas com a desintermediação nos mercados e a securitização, criou-se a expectativa de que haveria a diversificação de risco, por um lado, e, por outro, a alavancagem de crédito sem concentração excessiva das instituições financeiras", considerou acrescentando que, ao mesmo tempo, o mercado de derivativos agiria, mitigando o risco e, em tese, tornaria a estrutura mais equilibrada.

Economia interna

Em relação ao impacto dessa turbulência no Brasil, Meirelles voltou a dizer ontem que não há dúvidas de que o País seja um dos pontos de estabilidade e que todos concordam que há uma melhora da percepção macroeconômica brasileira. Ele citou especificamente a trajetória de desinflação, o desempenho do balanço de pagamentos e a manutenção do superávit primário. "Tudo isso reforçou a resistência do Brasil a choques", garantiu.

Além disso, o presidente do BC afirmou que diversos fatores vêm contribuindo para o crescimento da economia nacional: a expansão da renda real, a recuperação dos investimentos, o aumento do mercado de crédito e a "significativa flexibilização da política monetária implantada desde setembro de 2005". Nessa ocasião, a Selic estava em 19,75% e, desde então, só vem registrando quedas. Este conjunto de fatores, segundo ele, sugere que a demanda doméstica deverá permanecer como um elemento propulsor do avanço nos próximos trimestres. "Assim sendo, o crescimento da economia brasileira deve mostrar resistência em face a uma desaceleração da economia global", comentou.

Meirelles ponderou, no entanto, que estando inserido em um contexto econômico internacional, o Brasil não está totalmente imune ao que se passa com os seus parceiros externos. Ele voltou a dizer que não há dúvidas de que a economia brasileira está mais sólida e lembrou que no segundo semestre de 2002, quando ficou mais claro que Lula ganharia a eleição para presidente da República, houve uma disparada do dólar, chegando a atingir R$ 4 00. "Desde agosto de 2002, foram longos, longos anos, mas acho que valeu a pena. Estamos no caminho certo", afirmou.

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