Transportadores querem reversão de prejuízos

O estrondoso crescimento dos casos de roubo de cargas no Brasil preocupa os empresários do setor de transportes no Paraná. No ano passado, foram registrados 11.951 furtos e roubos de cargas no País. O prejuízo de valores subtraídos somou R$ 575 milhões, R$ 25 milhões a mais que em 2001, segundo levantamento da NTC (Associação Nacional das Transportadoras de Cargas). Embora cerca de 80% dos problemas ocorram em São Paulo e Rio de Janeiro, é na região Sul que o crime mais aumenta. Em 1999, foram contabilizadas 374 ocorrências (3,57% do total do País), enquanto no último ano foram 679 (5,68%).

No Paraná, o número de ocorrências teve um pequeno recuo – de 192 para 184 – porém as perdas saltaram de R$ 12,8 milhões, em 2001, para R$ 17,7 milhões. “O Paraná é rota para levar caminhões ao Paraguai e do Mercosul, para desovar mercadorias roubadas em São Paulo, onde também atuamos”, aponta o presidente do Setcepar (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná), Rui Cichella. “Como os índices nacionais são alarmantes, resolvemos estudar medidas que venham prevenir a atuação das quadrilhas de São Paulo no Paraná”. Com a participação de autoridades e empresários do setor, o Setcepar promoveu ontem o Fórum de Debates sobre Segurança nas Estradas.

Uma das principais dificuldades para enfrentar o roubo de cargas é a falta de integração entre os organismos envolvidos na prevenção e repressão ao crime. “Não existem dados estatísticos oficiais. As informações são variadas, de entidades empresariais, autônomas, secretarias de segurança e seguradoras”, diz o coronel Paulo Roberto de Souza, assessor de segurança da NTC, que apresentou o panorama do roubo de cargas no evento. As estatísticas existentes não refletem a realidade, porque em algumas regiões, como o Norte, apenas 20% das cargas são seguradas, devido ao baixo risco.

Segundo dados do Setcepar, somente metade das cargas valiosas transportadas no Paraná está segurada. Entre as cargas mais baratas, como a agrícola, não chega a 10% o montante segurado. O tipo de carga mais visada varia conforme a região do País. “No Rio Grande do Sul, é priorizado o roubo de couros para exportação. Em São Paulo, o foco no último ano foi medicamentos e eletrônicos. Mas em todos os lugares, há roubo de cigarros”, exemplifica Souza.

Como agravantes para a proliferação do roubo de cargas, o coronel citou ainda a insuficiência de inteligência policial, ações operacionais e delegacias especializadas; dificuldade de comunicação imediata dos sinistros aos órgãos policiais; deficiências na estrutura de fiscalização; e envolvimento de autoridades e funcionários das transportadoras. Entre os projetos de lei correlatos ao tema que tramitam no Congresso, o mais importante, conforme Souza, é o 187/97, que prevê a criação do sistema nacional de prevenção, fiscalização e repressão ao furto e roubo de veículos e cargas.

Mais recursos à repressão

Olavo Pesch

As autoridades paranaenses prometem tomar providências para coibir a violência nas estradas. O delegado-geral da Polícia Civil, Adauto Abreu de Oliveira, anunciou a reestruturação do Grupo de Repressão ao Roubo de Cargas. Os policiais passarão por treinamento de reciclagem e o grupo receberá mais recursos. “Nossa luta é estabelecer uma doutrina de segurança pública no País”, frisa.

Mentor do projeto “Operação Mãos Limpas”, do governo do Paraná com a Associação dos Magistrados e Poder Judiciário, o juiz do Tribunal de Alçada, João Kopytowski, defende a integração das polícias Militar, Civil, Rodoviária Federal, Forças Armadas e sociedade civil organizada. A operação vai organizar patrulhas rodoviárias para acompanhar viagens em comboios e um sistema comum de registro de delitos com consulta imediata e integrada.

A Polícia Rodoviária Estadual (PRE), responsável por 16 mil dos 18 mil quilômetros da malha rodoviária estadual, iniciou há quinze dias uma operação especial nos locais de alto risco, como as BRs 277 e 376. “Já tivemos 21 assaltos a ônibus este ano, mas nenhum após o início da operação”, comemora o comandante da PRE, José Paulo Betes. Ontem, dois assaltantes de ônibus foram presos. Até o final do mês, os batalhões de área da PM passarão a atuar em conjunto com a PRE. “Com esse apoio, teremos condições de aumentar o bloqueio nas rodovias, dificultando a ação dos marginais”, espera Betes.

Voltar ao topo