Transgênicos proibidos, 800 caminhões parados

Cerca de 800 caminhões carregados com soja estavam parados ontem em 28 barreiras sanitárias do Paraná, situadas nas divisas com os estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Eles não puderam entrar no Estado sem um laudo comprovando que a soja transportada não era transgênica. A medida foi tomada pelo governo estadual na segunda-feira, baseada em lei federal.

“Estamos cumprindo a lei federal 10.688 (de junho de 2003), que exige a identificação da procedência do produto”, declarou o vice-governador e secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, Orlando Pessuti. “Talvez o Paraná esteja sendo mais rigoroso do que outros estados, mas ou você cumpre a lei ou não cumpre. Não há meio-termo”, sentenciou.

Segundo ele, não houve qualquer manifestação do Ministério da Agricultura, em Brasília, sobre a medida tomada pelo governo do Estado. “Ninguém disse que estamos fazendo algo de errado”, afirmou.

Os caminhões carregados com soja e com destino comprovado a São Paulo, Santa Catarina ou Rio Grande do Sul, eram liberados, mas a carga, lacrada. Ao todo, 112 funcionários da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento fizeram a fiscalização nos postos.

Clima tenso

No posto de Jacarezinho, na divisa com São Paulo, cerca de 150 caminhões estão parados há dias. A maioria dos caminhões vindos de São Paulo e Mato Grosso do Sul estavam a caminho de Ponta Grossa. No posto de Guaíra, eram mais de 50 caminhões barrados ontem, vindos de Mato Grosso com destino a Ponta Grossa e Toledo.

Muitos motoristas consultaram as empresas responsáveis pela carga, mas cogitaram a possibilidade de furar o bloqueio ou até abandonar a soja nos postos de fiscalização.

Mercado

Segundo o governador Roberto Requião, a proibição da soja transgênica no Paraná tem por objetivo proteger o mercado produtor, já que a soja não modificada geneticamente é universalmente aceita em todos os mercados. Requião também teme o risco de monopólio no setor, já que a empresa americana Monsanto detém 90% das patentes transgênicas do mundo. A proposta tem recebido apoio dos agricultores.

Na segunda-feira passada, o governador recebeu da Assembléia Legislativa o projeto de lei que proíbe o plantio, comercialização e industrialização de soja transgênica no Paraná até 31 de dezembro de 2006. Também está proibida, durante o mesmo período, a exportação de soja transgênica produzida por outros estados ou países pelos portos de Paranaguá e Antonina. A lei deve ser sancionada na próxima segunda-feira. O Ministério da Agricultura informou que acompanha o caso da soja bloqueada nas divisas paranaenses com apreensão. (Com agências)

Caminhoneiros contra governo

O presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos do Paraná (Sindicam-PR), Diumar Cunha Bueno, criticou ontem a ação do governo do Estado em proibir a entrada de caminhões carregados de soja no Paraná, que não portassem laudo certificando que não se tratava de produto transgênico. “É uma situação lamentável. Se o governo queria implementar a ação, teria que comunicar com antecedência para que as empresas se adequassem”, comentou o presidente do sindicato.

Segundo Bueno, os postos de fiscalização não contam com estrutura de higiene, alimentação e segurança. “Foi uma ação intempestiva do governo, e um prejuízo muito grande para a categoria. Muitos caminhoneiros estão com dificuldades e precisam chegar aos seus destinos”, afirmou, acrescentando que muitos ameaçavam abrir as bicas das carretas e descarregar a soja nas próprias barreiras de fiscalização. De acordo com Bueno, a expectativa é que o governo do Estado reveja a posição e libere a passagem dos caminhoneiros. (LS)

Voltar ao topo