Transgênico levará à perda da terra

Os agricultores que usarem sementes de soja transgênica em suas lavouras correm o risco de incorrer em três tipos de crimes – de biosegurança, contrabando e desobediência civil, já que o plantio é proibido por lei – e ainda podem perder toda a plantação. O alerta foi dado ontem, em Maringá, pela pesquisadora Vânia Cirino, do Iapar, durante encontro do Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária (Conesa).

O Conesa promoveu quatro encontros no interior, numa iniciativa inédita no país, para orientar os sojicultores sobre os cuidados a serem tomados no plantio da próxima safra. Nos encontros, que reuniram 1,2 mil produtores, os agricultores foram alertados sobre a legislação a respeito dos transgênicos e discutiram como ficaria o mercado paranaense caso o cultivo de grãos geneticamente modificados fosse liberado no Brasil.

A pesquisadora disse que os agricultores que buscam redução de custos com o plantio de soja transgênica podem, ao contrário, acumular grandes prejuízos – primeiro, com a perda da soja; depois, com a recuperação do solo. “Trazer uma variedade de fora, não programada para o solo local, é o mesmo que perder a lavoura, porque a semente não pode ser melhorada. A regra vale para os transgênicos”, explicou.

Segundo Vânia, o plantio de sementes transgênicas pode provocar o surgimento de plantas invasoras, de difícil controle. “Podem surgir também doenças características da soja convencional, como o mofo acinzentado do caule. Nesses casos, os custos para recuperação do solo são altos”, acrescentou.

A pesquisadora do Iapar lembrou ainda que o Brasil é o primeiro no mundo em qualidade de pesquisa com soja; “daí o contra-senso de introduzir sementes geneticamente modificadas em nossas lavouras. É necessário esperar a liberação dos transgênicos, para que o plantio seja feito com toda a garantia”, disse.

Testes

Vânia recomendou aos produtores um teste para identificar se a semente comprada é ou não transgênica. Um mês e meio antes do plantio, o agricultor deve misturar as sementes e plantar, num local reservado na propriedade, mil grãos; 25 dias depois, deve ser aplicado o herbicida glifosate. Se a soja morrer, é convencional. O agricultor também pode utilizar o kit de testes à venda no mercado, que tem um resultado mais rápido.

Na reunião do Conesa ontem, em Francisco Beltrão, com a presença de 560 pessoas, o secretário da Agricultura, Deni Schwartz, condenou a entrada ilegal de soja transgênica no Paraná e comparou os autores da irregularidade de “Fernandinhos Beira-Mar”, uma referência a um dos maiores traficantes de drogas do país.

Deni informou que a Secretaria da Agricultura está colhendo amostras das sementes que serão usadas no próximo plantio de soja, para identificação de transgênicos. Serão colhidas 6.500 amostras, 30% de todas as sementes que serão plantadas. O Estado é o primeiro produtor nacional de sementes de soja. São 100 produtores, que ocupam uma área de 290 mil hectares e fornecem 210 mil toneladas de sementes, o equivalente a 4,2 milhões de sacas de 50 quilos.

O Paraná poderia ser autosuficiente em produção de sementes, mas como vende o produto para outros Estados, é obrigada a comprar parte do que consome. Na última safra, os sojicultores utilizaram 3 milhões de sacas de 50 quilos, das quais 500 mil vieram de fora – “o perigo está justamente aí, na vinda de sementes de outras regiões”, acrescentou o secretário Deni Schwartz.

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