Transbrasil completa um ano sem sair do chão

Rio

  – Na próxima terça-feira, a Transbrasil completa um ano sem sair do chão. A companhia, de propriedade da família Fontana e presidida pelo empresário Celso Cipriani, deixou de voar em 3 de dezembro de 2001 por falta de pagamento de combustível à BR Distribuidora. Deixou 1.500 funcionários sem emprego e cem mil passageiros com bilhetes sem garantia de reembolso.

A história da empresa, que iniciou suas atividades nos anos 70, pode estar perto do fim. O Departamento de Aviação Civil (DAC) está concluindo um processo administrativo que poderá resultar na cassação da concessão, esta semana. Depois disso, fica a cargo do Comando da Aeronáutica sentenciar o fim da história da companhia. O Código Brasileiro de Aeronáutica prevê a caducidade da concessão caso a empresa fique sem voar por 12 meses.

A Infraero também está prestes a retomar as áreas ocupadas pela companhia em aeroportos de todo o país. A dívida da Transbrasil com a Infraero é de R$ 138 milhões. Já a execução da dívida total da Transbrasil, de R$ 1,1 bilhão, foi para as mãos do Ministério Público e da Justiça. O Ministério Público do Trabalho, em Brasília, conseguiu levar a leilão um avião da companhia para quitar dívidas trabalhistas, que chegam a R$ 400 milhões.

Em meio ao impasse, os ex-funcionários tentam sobreviver. Sem receber salários desde setembro de 2001, muitos estão desempregados. O ex-comissário Julio Cesar Mairynk Neves trabalhou 16 anos na Transbrasil e hoje, aos 40 anos, é considerado velho na aviação.

? Apesar de ter enviado currículos para várias empresas, não consegui nada. Continuo desempregado, ajudado pelos filhos e por minha mulher. Quero aquilo a que tenho direito.

Aposentado após 27 anos como piloto e instrutor de vôo na empresa, Roberto Mantovani precisou vender o carro e a TV para pagar o fundo de pensão Aerus. A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, critica:

? O DAC assistiu a tudo sem tomar uma atitude. Poderia ter sido feita intervenção logo que os problemas surgiram, sem pôr dinheiro; só com fiscalização por parte do governo.

Enquanto a Transbrasil agonizava, Cipriani mantinha uma vida de luxo. Casou-se com Marise, uma das filhas do fundador da Sadia, Omar Fontana, e criou a Transbrasil nos anos 70. Sua fortuna, hoje estimada em mais de US$ 300 milhões, inclui “resort” no Colorado, mina de diamantes, mansões e carros importados.

Desde que a Transbrasil parou de voar, muitos foram os anúncios de planos de reestruturação e promessas de aporte de capital por investidores. Sem contar as tentativas de Cipriani de sair da presidência da empresa, sem sucesso. O primeiro quase-presidente foi Dilson Prado da Fonseca, um desconhecido empresário goiano, endividado e com o nome no SPC. A gestão de Fonseca durou pouco mais de duas semanas e foi marcada pela compra simbólica da companhia por apenas um real. Ele prometeu um aporte de US$ 25 milhões de investidores, cujos nomes jamais revelou.

Logo depois assumiu Michel Tuma Ness, conhecido por presidir o Clube do Feijão Amigo, ligado ao setor de turismo. A última tentativa de Cipriani foi repassar as ações (85%) da família Fontana para a Fundação Transbrasil. Mas a Curadoria de Fundações de São Paulo impediu a manobra.

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