Trabalho não deixa ninguém rico

Rio – As oportunidades de ser rico por meio do trabalho estão abertas a todos? A resposta, com base no estudo concluído em junho pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é “não” para a maioria dos trabalhadores. Usando cinco diferentes exercícios de simulação, feitos com base em dados do IBGE, o pesquisador Marcelo Medeiros mostra que, mesmo com incentivos massivos à educação, erradicação total da discriminação e da supressão das desigualdades regionais no Brasil, “as evidências empíricas disponíveis sugerem que os ricos continuariam uma elite”.

Para os exercícios que determinariam uma possível mobilidade entre as duas classes ele usou características concretas, que chamou de produtivas, como nível de escolaridade, região de residência do trabalhador, idade, raça e sexo. E também trabalhou com “resíduos” das Pnads, levantamento mais completo sobre o rendimento das famílias brasileiras. Este último parte de conceito mais abstrato, que especula sobre redes pessoais de relacionamento e uma bagagem cultural enriquecida por “educação e treinamento de elite”.

O resultado dos cálculos estatísticos mostra que, apenas considerados os aspectos concretos, a mobilidade do estrato social seria mínima. Por exemplo, se todos os trabalhadores do País tivessem nível educacional superior completo, os ricos continuariam uma pequena fração da população. Nesta simulação, “o movimento para o estrato rico ocorreria para apenas 0,7% dos não-ricos, o que nem sequer seria suficiente para duplicar o número observado de ricos do País”, diz o estudo.

O pesquisador ressalta que o aumento do nível educacional “teria impactos substantivos” sobre a renda da população, mas não o suficiente para criar uma grande massa de ricos. Do mesmo modo, políticas de redução da discriminação dos trabalhadores também não surtiriam este efeito.

“Os elevados níveis de discriminação entre todos os trabalhadores são uma indicação de que os rendimentos no Brasil são fortemente influenciados por atributos não-produtivos. Se cor e raça determinam tanto a inserção em algumas ocupações quanto diferenças de rendimentos, é provável que outros atributos dos ricos, como suas redes de relacionamento pessoal, capital cultural etc, sejam elementos que os favoreçam”, conclui o estudo.

Voltar ao topo