Terceiro trimestre decidirá investimentos na indústria

Os próximos três meses serão decisivos para a reversão da apatia do empresariado em relação ao futuro da economia. De olho em 2004 – já que, na sua avaliação, 2003 é dado como um ano perdido -, os industriais esperam a consolidação da trajetória de queda nos juros e o desenrolar das reformas da Previdência e tributária para, se for o caso, retomarem projetos de investimentos que estão engavetados. “As condições para crescer entre 3% e 4% no ano que vem serão definidas neste terceiro trimestre. Ele será decisivo” afirma o economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.

Brasília (AE) – Os investimentos privados são considerados pelo governo a base do crescimento econômico daqui para frente, substituindo o papel que o setor exportador vem desempenhando desde o ano passado. No entanto, o fraco desempenho da economia no segundo trimestre frustrou o empresariado e fez com que as expectativas em relação ao segundo semestre se deteriorassem. Se não há confiança em relação ao futuro, o setor produtivo não investe.

Segundo Castelo Branco, os empresários apostavam que o país iniciaria um ciclo do crescimento já a partir de abril, o que não se verificou. O único estímulo dado nesse sentido veio no fim do mês passado, com a redução da taxa de juros, mas, ainda assim, a queda de 0,5 ponto porcentual foi considerada muito pequena.

Mesmo diante da possibilidade de o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) efetuar um corte mais forte na taxa de juros na reunião marcada para a semana que vem, a expectativa dos empresários em relação ao crescimento econômico nos próximos seis meses é ruim. “A queda nos juros leva tempo para se manifestar na economia real, o que só deverá ter algum impacto no fim do ano”, diz Castelo Branco, ressaltando que, se esse corte se concretizar, o País ainda terá taxa de juro real muito elevada.

Por isso, afirma Castelo Branco, dificilmente este ano o País conseguirá elevar a taxa de investimento, que está em cerca de 19% do Produto Interno Bruto (PIB). A equipe econômica do governo tem apostado todas as fichas na implementação de investimentos já no segundo semestre. A idéia é elevar a taxa de investimento para cerca de 22% do PIB, o que, segundo os técnicos do Ministério da Fazenda, é compatível com um crescimento de 3,5% em 2004.

“Este ano, a taxa de investimento deve ficar onde está. Num cenário muito otimista poderia chegar perto de 20% no fim do ano”, diz Castelo Branco, ressaltando o fato de que, à exceção de setores exportadores como siderurgia e celulose, os demais trabalham com uma capacidade ociosa grande. Os setores mais críticos são os automobilístico e eletroeletrônico, que dependem fortemente da queda nos juros e recuperação no poder de compra dos trabalhadores.

“O terceiro trimestre ainda deverá registrar uma demanda doméstica fraca por causa da queda na renda. A taxa de investimento não deverá se elevar este ano”, avalia o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz. “Isso só deverá ocorrer no ano que vem, quando a demanda estiver mais aquecida.”

Para o economista Roberto Padovani, da consultoria Tendências, somente em 2004 o consumo doméstico deverá se recuperar num ritmo mais acelerado. “Aí, a sensação das pessoas será de mais crescimento, mesmo que o valor final não seja tão expressivo”, analisa.

Voltar ao topo