Os dados benignos de inflação da terça-feira em meio à leitura da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) sustentaram os juros em queda durante toda a sessão, tendo a taxa do contrato com vencimento em janeiro de 2021 renovado a mínima histórica mais uma vez. A ata reforçou a intenção do Copom de interromper o atual ciclo de queda da Selic, o que, porém, não conseguiu impedir o alívio dos prêmios na curva, uma vez que, por outro lado, endossou a avaliação de que a taxa não deve subir tão cedo. Nesse contexto, os vencimentos curtos tiveram recuo mais moderado do que os longos, estes favorecidos ainda pela melhora do apetite ao risco no exterior.

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A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,235% (novo piso histórico), nas sessões regular e estendida, de 4,266% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 5,522% para 5,42% (regular e estendida). O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 6,07% (regular) e 6,08% (estendida), ante 6,152%, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 6,42% (regular) e 6,44% (estendida), de 6,481%. Nos DIs curtíssimos, a taxa para abril de 2020 fechou estável em 4,148% (regular) e 4,15% (estendida).

Na ata, o trecho mais destacado pelos economistas para justificar a sinalização de que o corte da Selic para 4,25% foi o último foi aquele em que os diretores citam “múltiplas incertezas no que tange ao atual grau de ociosidade, à velocidade de recuperação da economia e ao aumento da potência da política monetária, que atua com defasagens na economia”. Tal trecho reforçou as apostas de que a Selic deve ser mantida no atual patamar durante muito tempo.

Diante disso, houve ajuste importante nas apostas para o Copom de março na precificação da curva, que passou de -3,5 pontos-base ontem para -0,8 ponto hoje, segundo cálculos da Quantitas Asset. Ou seja, a possibilidade de corte da Selic no mês que vem caiu de 14% para apenas 3% entre ontem e hoje, com consequente aumento da chance de manutenção de 86% para 97%.

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“O comunicado ficou mais forte que a ata na questão da possibilidade de o BC não voltar mais a cortar juro. Na ata, fica mais a sensação de pausa do que de interrupção”, diz o economista do ABC Brasil, Luis Otávio Souza Leal, para quem, em decorrência disso, o mercado poderá voltar a discutir cortes da Selic no segundo semestre se os dados de atividades permanecerem fracos.

Nas mesas de operação, a sensação também foi esta, segundo o sócio-gestor da LAIC-HFM, Vitor Carvalho. “Grande parte do mercado viu a ata mais ‘dove’ que o comunicado. Tem muita gente esperançosa de que interrupção seja apenas uma pausa”, afirmou.

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Os dados de inflação do dia endossam essa percepção. A primeira prévia do IGP-M teve variação zero, após ter subido 0,67% na mesma leitura de janeiro. Já o IPC-Fipe desacelerou de 0,29% no fim de janeiro para 0,19% na primeira quadrissemana de fevereiro.