Taxa de desemprego cai pelo terceiro mês seguido

O desemprego medido pelo IBGE caiu em julho, pelo terceiro mês seguido, para 11,2%, uma queda de 0,5 ponto percentual em relação a junho (11,7%). A taxa de julho é a menor desde dezembro do ano passado (10,9%), mês em que tradicionalmente o índice se reduz devido às contratações de fim de ano. Em relação a julho de 2003 (12,8%) a queda foi maior: 1,6 ponto percentual. Por sua vez, o rendimento médio real (R$ 901,20) cresceu 2% na comparação com julho de 2003, primeira alta neste tipo de comparação, desde março de 2003.

Rio ( AG) – A melhora nas perspectivas por parte do empresariado em relação à economia levou o mercado de trabalho a apresentar em julho dados extremamente significativos. Segundo o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, Cimar Pereira, ao contrário do ano passado, quando a taxa de desemprego começou a desacelerar somente em novembro, o mercado de trabalho este ano começa a produzir respostas positivas mais cedo.

“Como o cenário está mais favorável, houve antecipação das contratações típicas do segundo semestre, já que os pedidos de encomendas na indústria para o fim do ano aumentam e novas vagas são criadas”, diz.

Na avaliação do IBGE, a expansão do número de postos de trabalho deve continuar até o fim do ano em função da sazonalidade do período. Isso porque o setor industrial costuma contratar mais até outubro e, partir daí, o varejo é responsável pela criação de novas vagas. O gerente da pesquisa pondera, entretanto, que não só os fatores sazonais foram responsáveis pela retração do desemprego em julho.

De fato, houve criação de novas vagas. Enquanto a População em Idade Ativa (PIA), ou seja, apta a trabalhar, aumentou 2,1% em julho, na comparação com o mesmo mês do ano passado, o crescimento do número de pessoas ocupadas foi ainda maior, de 4,3% neste tipo de comparação.

Além disso, o nível de ocupação que mede o número de pessoas trabalhando (pelo número de pessoas em idade ativa) aumentou pela primeira vez na comparação anual: passou de 49,7% em julho de 2003 para 50,8% no mês passado.

Rendimento

Regionalmente, houve altas no rendimento em Recife (0,3%), Salvador (5,0%), Belo Horizonte (3,5%), São Paulo (2,7%) e Porto Alegre, que apresentou o melhor resultado regional (5,9%). Apenas no Rio de Janeiro houve queda (-1,5%) no valor do rendimento médio real, sempre na comparação anual.

O rendimento médio real atingiu R$ 901,20, uma alta de 2% ante igual mês do ano passado. Foi a primeira leitura positiva na comparação anual desde o início desse indicador, em março de 2003. Contra junho, o avanço foi de 0,6%.

Em relação a junho de 2004, houve alta de 0,6% no rendimento médio das seis regiões, e ainda em Recife (5,0%), Salvador (2,2%), Rio de Janeiro (3,0%), Belo Horizonte (1,4%) e Porto Alegre (2,8%). Apenas São Paulo apresentou queda no rendimento (-0,8%).

Inflação menor facilita acordos salariais

Lyrian Saiki

A inflação menor e o Produto Interno Bruto (PIB) maior facilitaram a reposição da inflação nos acordos salariais fechados no primeiro semestre deste ano. Conforme levantamento divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), quase 80% dos acordos salariais fechados nos seis primeiros meses do ano tiveram reajustes iguais ou maiores que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). É o melhor desempenho no período desde 1996, quando o levantamento começou a ser feito. O Paraná apresentou desempenho ainda melhor do que a média nacional.

Para o supervisor técnico do Dieese-PR, Cid Cordeiro, fatores como a inflação em queda, a economia retomando o crescimento, juros estáveis e o aumento do PIB formaram cenário propício para a reposição inflacionária sobre os salários. “Em 2003, cerca de 30% dos acordos e convenções tiveram o reajuste parcelado. Este ano, caiu para 10%”, apontou o economista.

O bom desempenho nas negociações este ano é seguido pelo pior índice da série, registrado em 2003, quando apenas 41,9% dos acordos coletivos tiveram reajustes iguais ou maiores que o INPC. “Os indicadores econômicos eram ruins, com o PIB e os salários em queda, aumento do desemprego, dos juros e da inflação”, apontou Cordeiro.

Aliás, a inflação é um dos fatores principais quando o assunto é reajuste salarial. “Quando a inflação está em alta, há dificuldades em zerá-la nos salários e, quando zera, há parcelamento do reajuste”, explicou. Outro problema, acrescentou, é o aumento de custo que a alta inflação provoca. “Com a inflação de 5%, o impacto no custo geral é de 1%, enquanto com a inflação de 20%, o impacto é de 4%.” A título de comparação, o INPC dos últimos 12 meses apurado em junho de 2003 ficou em 20,44%, enquanto em junho de 2004 era de 4,99% – a menor inflação no primeiro semestre. A maior foi em janeiro: 10,38%.

Entre as categorias com data-base no primeiro semestre, destaque para a indústria da alimentação, gráfica, madeira e mobiliária, cal, fiação e tecelagem, mármores e granitos, além da construção civil. Também fazem parte da lista o comércio varejista e atacadista, serviços – vigilância, saúde, assessoria, perícia e informações.

As categorias que têm data-base no segundo semestre são as dos metalúrgicos, bancários, químicos, petroleiros, parte dos comerciários, dos têxteis, entre outras. O levantamento do Dieese analisou 262 negociações de reajuste salarial. Desse total, 79,4% obtiveram reajustes iguais ou maiores do que o INPC. Só 20,6% tiveram reajustes inferiores ao INPC.

Do total de negociações que resultaram em reajustes iguais ou maiores do que a inflação, 47% obtiveram ganhos reais para os trabalhadores. Ou seja, fixaram índices de reajuste superiores aos percentuais necessários para a reposição das perdas.

Desempenho no Paraná foi ainda melhor

No Paraná, a indústria obteve desempenho ainda melhor do que a média brasileira, segundo Cid Cordeiro. Enquanto no cenário nacional 60% dos acordos tiveram aumentos reais, no Paraná o índice foi de 70% , com aumentos reais que variaram entre 0,38% e 3,22%.

No comércio, o desempenho do Paraná também foi melhor. No Brasil, aproximadamente 40% da categoria obteve aumento real; no Paraná, a estimativa é de 50% a 60%, com índices variando entre 0,96% e 4,77%. No setor de serviços, quase 60% dos acordos fechados tiveram aumento real de 0,5% a 3,0%. No cenário nacional, o índice foi de 50%.

“Aumento real não significa que os salários estão com valores mais elevados”, esclareceu Cordeiro. Segundo ele, o poder aquisitivo não é determinado apenas pelo salários, mas definido pela sua renda líquida. “Nos últimos anos, houve aumento da carga tributária, passando de 30% do PIB em 95 para 36%. Zerar a inflação sem corrigir a tabela de inflação reduz o poder aquisitivo”, explicou. Outro fator que deprecia a renda são as tarifas públicas – antes de 94, elas respondiam por 16% da renda, e hoje por 30%. “Está sobrando menos dinheiro para alimentação, vestuário, lazer.” Os novos hábitos de consumo – como o uso do aparelho celular, internet – também ajudam a reduzir o poder aquisitivo do brasileiro, assim como os juros.

No setor público, os servidores de Curitiba tiveram reposição um pouco abaixo da inflação (aproximadamente 7%) e de forma escalonada, segundo Cid Cordeiro. No Paraná, a maior negociação fechada no primeiro semestre foi a dos professores da rede estadual, que tiveram reajuste médio de 33%. “Nesse caso, não há como comparar com a inflação, porque o reajuste representou perdas de oito anos”, esclareceu. (LS)

Conflito trabalhista terá arbitragem

A proposta de reforma sindical que será enviada ao Congresso vai alterar a forma de resolver os conflitos entre empresários e trabalhadores. Em vez de ir parar na Justiça, as negociações trabalhistas terão ser resolvidas por um árbitro, que poderá ser público ou privado.

A figura do árbitro está prevista na reforma como meio de fortalecer as negociações trabalhistas. “Hoje, quando o trabalhador ameaça fazer greve, a empresa pode entrar com pedido de dissídio e quem decide se as reivindicações devem ser atendidas é um juiz de fora, que não conhece a realidade daqueles trabalhadores”, disse o secretário de organização da CUT, Artur Henrique Silva Santos.

Segundo ele, o árbitro público poderá ser entidades como o Ministério Público ou a OAB (Organização dos Advogados do Brasil). Silva Santos afirmou que a negociação arbitrada também acabará com a estratégia das empresas de tentar derrubar no TST (Tribunal Superior do Trabalho) uma decisão favorável aos trabalhadores obtida no TRT (Tribunal Regional do Trabalho).

Para o presidente da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a arbitragem vai melhorar a qualidade das negociações trabalhistas. “O negociador terá de ser bom. E isso vai incentivar o aperfeiçoamento dos negociadores. Porque se o negociador for ruim, os trabalhadores acabarão perdendo na arbitragem.”

A proposta de reforma sindical foi aprovada no último final de semana na reunião do Fórum Nacional do Trabalho. São cerca de 230 artigos que alteram a estrutura sindical do País.

Entre as mudanças previstas está o fim do imposto sindical, equivalente a 3,33% do salário de março do trabalhador.

O imposto será substituído por uma contribuição negocial – que precisará ser aprovado em assembléia -, podendo chegar a 13% da média salarial mensal do ano anterior.

A expectativa das centrais sindicais é que a proposta seja enviada para o Congresso após as eleições municipais de 2004.

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