Supermercados promovem “dumping” com o pãozinho

O presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria no Paraná, Joaquim Cancela Rodrigues, vê com preocupação a prática de preços abaixo do custo do pão francês por parte dos supermercados. Mas não concorda com a posição do sindicato da categoria em São Paulo, que pede que supermercados sejam proibidos de fabricar e vender o pãozinho.

“A gente é contra o dumping que está ocorrendo, mas não vejo a reserva de mercado como solução do problema”, diz ele. Em Curitiba, o preço médio do pãozinho é R$ 0,20 a R$ 0,25 nas padarias. Nos supermercados, é comum encontrar o pão a R$ 0,10. “Qualquer preço abaixo de R$ 0,20 já mostra abuso do poder econômico. Esse é o preço mínimo para trabalhar com margem de lucro”, esclarece.

Na última terça-feira, o assunto foi levado ao ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini. Durante audiência, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Panificação, Confeitaria e afins de São Paulo, Francisco Pereira de Sousa Filho (Chiquinho), pediu que o governo federal proibisse a fabricação e venda de pães pelos supermercados. O sindicato questiona se os supermercados, que têm como atividade fim a venda de produtos acabados, poderiam fabricar pães. Questiona ainda a concorrência desleal e predatória, resultado da prática de preços abaixo do custo.

“O ministro falou que deveríamos apresentar o projeto de lei e, a partir do momento que questionássemos os dois pontos – direito ou não do supermercado em fabricar e vender pães e a questão da concorrência desleal -, o governo entraria na discussão na tentativa de colocar ?ordem na casa,” afirmou. O projeto de lei será apresentado pelo deputado federal Cláudio Marcão (PPS/SP). Caso a lei seja aprovada, será aplicada em âmbito nacional.

“Nosso interesse não é acusar ninguém. Mas quando o supermercado produz e vende, geralmente a preço de custo ou abaixo, é apenas com a intenção de atrair mais clientes. O lucro ele tira em outros produtos”, diz Chiquinho. Segundo ele, a queda brutal de venda de pães está colocando em risco milhares de postos de trabalho. Nos três últimos anos, cerca de 13 mil trabalhadores do setor em São Paulo foram demitidos, segundo dados do sindicato.

Clandestinidade

Para Joaquim Cancela Rodrigues, do sindicato no Paraná, pior do que a concorrência dos supermercados são as padarias clandestinas, que não têm registro, não recolhem impostos e, por isso, podem vender por um preço menor. “A clandestinidade é um câncer, pior ainda do que a concorrência dos supermercados. Temos cobrado ação das autoridades e trabalhado com denúncias, mas está complicado”, afirmou. Em Curitiba e Região Metropolitana há cerca de 980 panificadoras registradas e 550 na clandestinidade. Em São Paulo, a estimativa é que 40% do total de pães produzidos sejam de fábricas clandestinas.

No Paraná, outra briga do setor é que o salário do padeiro no supermercado (R$ 330) seja equiparado ao da padaria (R$ 504,00). Em todo o País, há cerca de 54 mil padarias que empregam diretamente quase 600 mil trabalhadores.

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