Superávit vai variar com necessidade de crescer

Brasília (ABr) – A maneira como o Brasil economiza divisas para alcançar o superávit primário (receitas menos despesas excluindo o pagamento de juros) não é adequada e, de acordo com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o País deve procurar uma alternativa “mais correta” de equacionar seus compromissos.

Em 2005, o país deverá trabalhar com um novo conceito de superávit primário. “O que vamos fazer no ano que vem não é reduzir nem aumentar o superávit, é introduzir a idéia de um superávit que seja variável com o crescimento econômico. O Brasil cresce muito, guarda mais recursos. Se um ano ele tiver dificuldades econômicas, ele não cobra mais impostos da sociedade, piorando as dificuldades, mas ele pode gastar aquilo que guardou para investimentos e para normalizar a situação do país. Então, é uma maneira mais adequada, mais correta de fazer superávit”, disse Palocci em entrevista ao programa Bom Dia Brasil.

O ministro da Fazenda ressaltou a importância de se atingir o superávit primário. Segundo ele, esta é a melhor maneira de equilibrar a dívida, reduzi-la ao longo do tempo, e dispor de mais recursos para investir. “O que o Brasil realiza ao longo das décadas em termos de superávit ou déficit não é um procedimento adequado. Normalmente, o país economiza mais nos momentos de crise e gasta mais nos momentos de crescimento e de boa arrecadação. Deveria ser o contrário”, explicou.

Palocci comparou a economia feita pelo país ao orçamento familiar e acrescentou que o ideal é economizar para dispor de mais recursos para investir. “Se você, num determinado momento, está ganhando melhor, você guarda um pouco de dinheiro, para se um dia você tiver uma dificuldade grande, você ter aquela reserva para gastar. O Brasil faz ao contrário, quando está bem gasta muito, quando está mal faz mais reservas, cobra da sociedade mais impostos e piora a situação da economia do País”, reforçou.

Caso Waldomiro

Antonio Palocci disse também que o caso Waldomiro Diniz faz “parte do cenário político” e as forças da economia “não se abalam com situações como essa”.

“Não vejo isso como uma crise política, mas sim como um episódio que tem de ser visto com serenidade.” Palocci disse que situações como essas são problemáticas, mas que o Brasil tem instituições fortes para apurar o caso e que o País não pode ter sua agenda econômica interrompida por causa disso.

Segundo o ministro, “temos que confiar que essas instituições (o Ministério Público, o Legislativo, o Executivo) têm maturidade, capacidade e independência para realizar o que precisa realizar em situações como essa, apurar as coisas que tiverem que apurar, tomar as decisões que tiverem que tomar e o Brasil precisa prosseguir com sua agenda. Seria absurdo que o país parasse com sua agenda em relação a situações como essa. Essas coisas acontecem, vão acontecer outras vezes”.

Senado quer explicações

A CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado aprovou ontem requerimento do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) convidando o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a prestarem esclarecimentos sobre a política econômica.

Entre outras coisas, Palocci e Meirelles deverão explicar a bastante criticada política de juros do BC, as metas de inflação, a queda de 0,2% do PIB (soma de riquezas produzidas por um país) no ano passado, os acordos assinados com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a meta de superávit primário (dinheiro economizado para pagar juros) de 4,25% do PIB e o pacote de incentivo à compra de imóveis anunciado anteontem.

A data da audiência ainda vai depender da disponibilidade dos dois principais membros da equipe econômica. Por tratar-se de um convite, e não de uma convocação, não há um prazo máximo fixado para o comparecimento.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) sugeriu que a audiência aconteça antes da próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, do BC), em 16 e 17 de março, em que deve ser decidida uma possível alteração na taxa básica de juros. Já a expectativa de Suplicy é fazer a reunião na próxima semana.

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