Sojicultor vai perder R$ 6,6 bi com safra menor

A soja, sinônimo de renda certa nos últimos anos, começa a deixar os produtores apreensivos. Custos elevados de produção e quebra de safra interromperam o ânimo de parte deles. O excesso de chuvas no Centro-Oeste e a seca no Sul, somados à presença da ferrugem asiática por todo o país, vão provocar forte redução nos ganhos dos produtores. “Eles vão deixar de embolsar US$ 2,2 bilhões (cerca de R$ 6,6 bilhões) nesta safra. Só os gastos com o combate à ferrugem asiática poderão atingir, na média, US$ 1 bilhão (R$ 3 bilhões)”, diz Anderson Galvão, da consultoria Céleres, de Uberlândia (MG).

Esses cálculos consideram o uso de fungicida contra a ferrugem em apenas 75% das lavouras plantadas. Se os cálculos forem estendidos a todas as áreas de plantio no País, e consideradas três aplicações do fungicida nas lavouras para combater o fungo provocado pela doença, os gastos dos produtores sobem para US$ 1,6 bilhão (R$ 4,8 bilhões).

“Esse dinheiro é uma transferência de renda dos produtores para empresas fabricantes de fungicidas, de combustível e para serviços de mão-de-obra”, diz Galvão. Ele estima que pelo menos 79% desses gastos serão com o fungicida. Os demais 21% ficam com a operação de aplicação desse defensivo.

Safra menor

Os dados mais recentes de produção de soja no Brasil são desastrosos. Já se estima safra de apenas 50 milhões de toneladas, 11 milhões a menos do que a previsão mais otimista feita no início do ano.

O levantamento mais recente da FNP Consultoria & Agroinformativos já aponta para 50,9 milhões de toneladas, abaixo dos 51,8 milhões de 2003, segundo Deives Faria da Silva.

A Céleres, no entanto, ainda estima safra entre 53 milhões e 54 milhões de toneladas. Galvão diz que o volume de 50 milhões “não é impossível, mas é uma discussão que vai se arrastar pelo ano todo, até que se definam os dados de exportações, do esmagamento e dos estoques internos”.

Apesar da forte quebra da safra, o valor básico de produção da soja não sofrerá grande recuo. Deveria ser de US$ 14,4 bilhões, mas recuará para US$ 13,2 bilhões a US$ 13,7 bilhões, dependendo do volume a ser produzido. Isso porque a alta nos preços compensa a quebra da produção.

Essa distribuição de renda, no entanto, será bem diferente da dos anos anteriores. Parte dos produtores do Sul, os mais prejudicados, pode ter prejuízo. Já os das áreas onde a produtividade não foi tão ruim, vão se beneficiar dos elevados preços da soja nos mercados externo e interno.

Fernando Muraro, da AgRural, diz que “a cultura da soja passa a viver outro momento a partir de agora”. A puxada nos preços internacionais do produto permitiu o repasse de preços dos insumos para o setor, que vai ter de conviver com custos elevados. Novas quebras de safra, com custos elevados de produção, preocupam os produtores.

Mesmo com custos maiores, é previsto um novo aumento de área com o cultivo do grão neste ano. Serão semeados 23 milhões de hectares, nas contas de Muraro, 10% a mais do que na safra 2003/4. Os produtores terão de conviver com custos de produção em patamares mais elevados, afirma ele.

“Veio para ficar”

“A ferrugem veio para ficar”, diz Muraro. Segundo ele, “é um fungo letal, mas controlável, só que vai exigir grande precaução e gastos dos produtores”.

A elevação nos custos de produção da soja brasileira preocupa porque o País já é punido pelos elevados custos de logística (transporte e custos de exportação).

Estudos de uma cooperativa paranaense, concluído na semana passada, indicam que os insumos subiram 23% nos últimos 12 meses. Devido aos elevados preços externos da soja, os produtores ainda não sentem muito esse custo, afirma o gerente dessa cooperativa do oeste paranaense.

A velocidade de queda dos preços da soja na Bolsa de Chicago, no entanto, será rápida quando o mercado estiver com muita oferta, fato que não ocorrerá com os custos dos insumos, diz ele.

Quando houver a reposição dos estoques mundiais, e os preços internacionais da soja recuarem para patamares normais, o Brasil pode perder competitividade diante dos norte-americanos.

Os analistas são unânimes em dizer que um dos primeiros efeitos sobre esses custos e quebra de safra neste ano será o desaquecimento dos preços da terra, principalmente na de arrendamento.

De olho nos EUA

A partir de agora os produtores brasileiros ficam cada vez mais de olho nos norte-americanos, que já manifestaram intenção de plantar mais soja nesta safra do que no ano passado, devido aos bons preços internacionais.

O quadro só fica claro, no entanto, a partir de julho, quando as estimativas de produção dos Estados Unidos ficam mais confiáveis. Neste ano, mais do que nunca, os produtores brasileiros devem ficar atentos à comercialização.

Novos problemas com a safra dos Estados Unidos vão empurrar os preços internacionais ainda mais para cima. Uma “safra cheia” por lá, no entanto, deverá começar a desaquecer os preços na Bolsa de Chicago, segundo analistas.

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