Sociedade desigual trava progresso do Brasil

Brasília – A desigualdade econômica e social não é apenas injusta, mas também impede o próprio desenvolvimento no Brasil e na América Latina. A conclusão é do Banco Mundial, no estudo Desigualdade na América Latina e no Caribe: Rompendo com a História?, divulgado ontem.

O economista Francisco Ferreira, um dos autores do relatório, diz que “se a desigualdade é muito grande, cada ponto percentual de crescimento econômico resulta em redução menor da pobreza”. Ele analisou 52 pesquisas em 20 países da região, em diferentes períodos. O estudo mostra o Brasil em primeiro lugar na lista dos países mais desiguais da América Latina, por sua vez uma das regiões de maior desigualdade no mundo.

O relatório traz, no entanto, pelo menos um dado positivo: nos anos 90, a desigualdade diminuiu um pouco no Brasil. Aumentou, porém, em países como Argentina, Uruguai e Venezuela, países onde a desigualdade ainda é muito menor do que no Brasil. O índice Gini (indicador que mede a concentração de renda de um país e indica desigualdade maior à medida que se aproxima de 1) do Brasil caiu de 0,595 no início dos anos 90 para 0,572 uma década depois.

A diferença de renda entre os 10% da população que ganham mais e os 10% que ganham menos caiu ainda mais: de 63 vezes na média familiar per capita em 1990 para 54,4 vezes em 2001. O relatório mostra que os 10% mais ricos da América Latina e do Caribe ficam com 48% da renda total, enquanto os 10% mais pobres recebem apenas 1,6%. Nos países industrializados, os 10% mais ricos recebem 29,1% da renda total, e os 10% mais pobres recebem 2,5%.

Entre 1970 e 1990, o índice Gini da região foi, em média, 10 pontos maior do que na Ásia, 17,5 pontos maior do que nos 30 países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, que reúne os países mais desenvolvidos) e 20,4 pontos maior do que os países do Leste Europeu.

“A desigualdade na América Latina tem raízes históricas, no processo de colonização, mas foi reproduzida e mantida ao longo do tempo”, afirma Ferreira. “Mas é possível mudar essa situação no futuro.” Para isso, o relatório recomenda o investimento maciço em educação e a melhoria do acesso a outros serviços públicos, o fortalecimento das instituições democráticas, com participação popular na tomada de decisões, criação ou incremento de redes de proteção social e programas de redistribuição de renda para os mais pobres e aumento da participação social dos negros e indígenas.

“A chave para a redução das desigualdades na América Latina são as reformas institucionais”, diz o economista-chefe do Banco Mundial para a região, Guillermo Perry. O Banco Mundial também prega um sistema financeiro e fiscal seguro, que permita a acumulação de poupança em épocas de crescimento para ser usado de proteção para os mais pobres em épocas de crise.

Ferreira, que é brasileiro, diz que a pequena melhora nos índices de desigualdade no país na última década foi resultado dos programas de redistribuição de renda adotados nos anos 1990, do tipo Bolsa-Escola ou Bolsa-Alimentação. Os programas são citados como exemplo pelo Banco Mundial, por combinar a melhora imediata da renda da família, com o aumento de oportunidades no futuro para as crianças. O economista diz que o orçamento participativo, do PT, é exemplo de incluir a população nas decisões.

Voltar ao topo