Só acordo acaba impasse sobre aftosa

Apenas um acordo entre o governo estadual e o federal poderia colocar fim ao impasse do foco de febre aftosa no Paraná. A alternativa foi citada ontem pelo deputado César Silvestre (PPS-PR), relator da Proposta de Fiscalização e Controle para o caso da aftosa no Paraná. ?Tecnicamente os dois (secretaria estadual da Agricultura e o Ministério da Agricultura) têm razão. O nosso interesse é que haja um entendimento. Se há o foco, que o Paraná determine o sacrifício, mas se não há, que o Ministério da Agricultura tenha humildade e reconheça que não há?, afirmou Silvestre.

Durante mais de quatro horas, representantes do Ministério da Agricultura, da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, da Panaftosa, além de um médico veterinário virologista, outro patologista e o gerente da Fazenda Cachoeira, onde foi confirmado o foco da doença no início do mês, defenderam seus pontos de vista, durante audiência pública realizada ontem no Plenarinho da Assembléia Legislativa, em Curitiba.

O vice-governador e secretário estadual da Agricultura e Abastecimento, Orlando Pessuti, voltou a afirmar que o Paraná não tem febre aftosa. ?O laudo emitido pelo Lanagro não comprova o isolamento, nem a identificação do vírus?, afirmou, acrescentando que o Ministério da Agricultura não poderia ter se baseado só em sorologia e na origem dos animais para decretar o foco. Pessuti afirmou, ainda, que o Estado não está descumprindo as normas da OIE (Organização Internacional de Sanidade Animal). ?A OIE e o Ministério da Agricultura facultam ao Estado a optar pelo prazo de seis meses (no caso de sacrifício sanitário) ou 18 meses (se não houver o sacrifício). Por enquanto, estamos cumprindo a norma dos 18 meses?, falou, referindo-se ao prazo para que o Estado reconquiste o status de área livre de aftosa com vacinação.

?Se vamos optar pelo sacrifício ou pelo abate, ou nem mesmo pelo abate, isso ainda vai ser decidido?, afirmou. Segundo Pessuti, a decisão só será tomada depois que a comissão que foi conversar com representantes da União Européia e da OIE retornar ao Brasil e depois, ainda, que o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues voltar de sua viagem a Hong-Kong.

Lesões

Durante a audiência pública, o coordenador-geral de combate às doenças do Ministério da Agricultura, Jamil Gomes de Souza, argumentou que o animal infectado com o vírus da aftosa pode ficar ?curado? a partir do 15.º dia depois do início dos sinais clínicos. ?Depois disso, é muito difícil isolar o vírus?, afirmou. Souza argumentou ainda que os exames Elisa 3ABC e EITB, que teriam indicado a doença em 22% dos exames realizados em 209 animais da Fazenda Cachoeira – e que por isso teve o foco decretado – são utilizados no País desde 99 e são de alta sensibilidade.

Professor da Universidade Estadual de Londrina e doutor em Virologia, Amauri Alfieri criticou a falta de recursos por parte do governo federal na sanidade animal e a falta de investimentos nos laboratórios. ?Precisamos de análises laboratoriais que nos dêem uma certeza maior para confirmar o foco. Só que para fazer um diagnóstico diferencial é preciso ter infra-estrutura laboratorial?, criticou.

O coordenador do curso de Medicina Veterinária da Cesumar e doutor em Patologia, Raimundo Tostes, refutou a afirmação feita por Jamil de Souza de que as lesões da febre aftosa podem desaparecer. ?Dizer que as lesões regridem em sete ou dez dias é muito relativo. A aftosa, mesmo que ocorra de maneira subclínica, tende a permanecer no tecido epitelial. O vírus não desaparece tão rapidamente?, argumentou. Para Tostes, os animais do Paraná apresentaram a BVD (Diarréia Viral Bovina). ?Dizer que era aftosa, me desculpem a expressão, foi ?um chute??.

Verdade

?Estamos procurando identificar quem está falando a verdade?, afirmou o deputado César Silvestre. Segundo ele, a tarefa não é fácil, já que o assunto é muito técnico. ?O propósito maior é que essa discussão acabe o mais rápido possível?, disse. O melhor caminho, afirmou, seria o acordo entre as partes. Se isso não ocorrer, e a Comissão da Agricultura da Câmara dos Deputados entender que não há aftosa no Paraná, os deputados federais poderão pedir que o Ministério da Agricultura reveja a decisão de decretar a doença no Estado. Qualquer medida nesse sentido, porém, só será tomada no ano que vem. É que o recesso parlamentar começa hoje e o retorno está previsto para 14 de fevereiro. Até lá, o deputado apresentará apenas um relatório prévio.

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