Sindicatos querem reduzir metas dos bancos

Diante do fraco resultado da economia brasileira, a principal aposta do governo Dilma Rousseff para reanimar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) está no mercado de crédito. Em julho e agosto, o Banco Central anunciou dois pacotes com medidas para liberar recursos aos bancos e oferecer mais dinheiro às famílias e empresas. Mas para fazer funcionar a estratégia, seria preciso que, na ponta, houvesse interesse para contratar financiamentos.

Com mais dinheiro à disposição, os bancos têm aumentado a pressão sobre seus gerentes para conquistar novos clientes e, principalmente, estimular os consumidores a contratar mais empréstimos e adquirir produtos financeiros. O momento atual, entretanto, é de demanda fraca em razão de endividamento ou estratégia mais conservadora para evitar riscos.

Os bancários alegam que não conseguem cumprir as metas há alguns meses, principalmente quando os juros voltaram a subir.

Os sindicatos entraram em disputa com os bancos para reduzir as metas para venda de produtos e serviços financeiros. “Se não discutimos metas, vamos continuar enxugando gelo”, afirmou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro, Carlos Cordeiro. Ele é responsável por discutir o assunto nas negociações da categoria com os banqueiros.

Saúde

A pressão pelo cumprimento das metas nas agências tem levado a discussão financeira para o campo da saúde do trabalhador. O Comando Nacional dos Bancários, que representa os trabalhadores nessas negociações, informa que 18,6 mil bancários doentes foram afastados do trabalho pelo INSS em 2013. Isso significa aumento de 41% em relação aos últimos cinco anos, segundo os números apresentados pelo sindicato aos bancos. Mais da metade dos funcionários saiu em licença com diagnóstico de transtornos mentais e do sistema nervoso. Nos últimos cinco anos, afastamentos por causa de doenças desse tipo subiram 64,3%.

Uma gerente de um grande banco privado paulista relata que aumentou a pressão para incrementar os negócios nas últimas semanas. O “clima” de confiança entre os consumidores, em especial as pessoas físicas, melhorou entre julho e agosto, na comparação com os meses do primeiro semestre. “Mas não o suficiente para bater metas. Mesmo com condições melhores, como a economia está parada os clientes não estão com disposição para aumentar o endividamento.”

A professora Ana Magnólio Mendes, do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da UnB, avalia que os bancários são atormentados por um “sofrimento ético”: precisam vender produtos e empurrar crédito, mesmo quando sabem que os clientes não precisam se endividar mais. A professora coordenou uma pesquisa, a pedido do Sindicato dos Bancários de Brasília, com 1,5 mil profissionais no fim do ano passado.

Outra gerente de um banco em Brasília relata as dificuldades. “Tenho uma lista de clientes para ligar todo dia e não tenho vergonha de implorar para que eles aceitem fazer novos investimentos porque preciso do meu emprego.”

Ela afirma perder a noite de sono porque não consegue bater as metas. “Meu gerente está 15 dias de atestado, tomando remédio de tarja preta.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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