Segundo Meirelles, mercado tem reação nervosa à crise nos EUA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse na tarde desta segunda-feira (21) que o comportamento dos mercados financeiros hoje reflete "reações nervosas" ao desdobramento da crise hipotecária nos Estados Unidos. Na avaliação de Meirelles, que classificou o dia de hoje nos mercados como "especial", a queda das principais bolsas de valores do mundo pode sinalizar que "os Estados Unidos podem experimentar uma recessão".

Ele afirmou que a desvalorização dos ativos acontece como "uma lição que está sendo absorvida pelos mercados". Este comportamento, segundo Meirelles, está sendo monitorado de perto pelo BC.

Meirelles afirmou ainda que o Banco Central continua com sua estratégia de monitorar os mercados e tomar decisões caso necessárias. "Sempre que for necessário, podemos tomar medidas preventivas para evitar problemas futuros.

Em seu discurso na cerimônia de posse da nova diretora de Assuntos Internacionais do BC, Maria Celina Arraes, Meirelles destacou a significativa melhora nos indicadores de sustentabilidade externa do País, como por exemplo a relação entre dívida externa líquida e exportações e o fato de o Brasil ser credor em moeda estrangeira, o que, ao contrário de em anos anteriores, evita que uma alta no dólar provoque uma forte elevação da dívida pública e uma piora na percepção de risco do País. "Esse ciclo não é mais válido, porque somos credores externos.

Segundo ele, a melhora nos fundamentos externos do País garante que o efeito de uma recessão nos Estados Unidos seja menos "custoso" à economia brasileira. "Nós aproveitamos um momento de bonança e o quadro, portanto, é de tranqüilidade e realismo", afirmou.

Compromisso com metas de inflação
 
O presidente do Banco Central descartou o uso de "experimentalismos macroeconômicos" do passado e reafirmou o compromisso do governo com os três pilares da política econômica: responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e metas de inflação.

Sobre as metas de inflação, Henrique Meirelles destacou que o regime traz benefícios especiais tanto em momentos de bonança como em períodos de crise. Em relação ao câmbio flutuante, o presidente do BC enfatizou que esse é o melhor regime para enfrentar turbulências financeiras, como a atual. "O mercado é mais competente na administração da taxa de câmbio", afirmou.

Meirelles lembrou que a deterioração do quadro externo já era prevista no relatório de inflação da instituição. Apesar disso, ele destacou que o País, como credor externo e com fundamentos sólidos, pode enfrentar essa crise com mais serenidade. "Não estamos imunes, mas estamos melhor preparados", disse o presidente do BC, destacando que a autoridade monetária vai continuar trabalhando para reduzir a vulnerabilidade da economia que tem deixado o País cada vez mais próximo do status "grau de investimento", conferido pelas agências de classificação de risco.

Ordem é aumentar a aceitação do real

Henrique Meireles afirma que um dos desafios do Brasil no cenário internacional é tornar o real uma moeda aceita internacionalmente. Para ele, aumentar a aceitação do real em países fora da América Latina vai permitir reduzir custos de transações no câmbio e, ao mesmo tempo, abrir mercados para a economia brasileira.

A mesma idéia foi defendida por Paulo Vieira da Cunha, que ocupava a diretoria de Assuntos Internacionais. "Um dos desafios dessa área é tornar o real uma moeda de valor, não aceita apenas na América Latina, mas em todo o mundo. O real vai ser uma das grandes moedas do mundo", disse o diretor que está deixando o cargo.

Meirelles também citou que o Brasil tem tido papel importante no cenário mundial. "Antes éramos chamados para dar explicações. Agora, somos convidados para dar opiniões sobre o cenário internacional e o que pode ser feito para melhorar a situação. Temos, hoje, um papel central", disse.

Ele citou como exemplo a presidência do G-20, que passa a ser exercida pelo Brasil em 2008. Nesse tema, segundo Meirelles, é importante aumentar a participação brasileira em organismos multilaterais.

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