Safra no Paraná deve crescer menos que a média nacional

A safra agrícola no Paraná deve crescer 7,8% este ano, passando de 25,645 milhões de toneladas em 2004 para 27,684 milhões de toneladas em 2005. Se confirmadas as projeções, o Paraná deve apresentar um desempenho pior do que a média nacional, estimada em crescimento de 12,96%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O mau desempenho do Paraná se deve sobretudo à estiagem, que castigou os principais produtos agrícolas do Estado, como a soja e o milho. Conforme levantamento da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), através do Departamento Econômico Rural (Deral), a safra de soja este ano deve apresentar perda de 6% em relação à estimativa inicial. Previa-se que a produção girasse entre 11,5 a 13 milhões de toneladas, mas a produção deve ficar mesmo entre 11 e 12 milhões de toneladas, segundo a Seab. Se a estiagem perdurar, a perda pode ser ainda maior. ?Mesmo assim, é quase 15% a mais do que o volume colhido no ano passado?, amenizou o coordenador da previsão de safra do Deral, Dirlei Antonio Manfio. Em 2004, a produção de soja foi de 10,1 milhões de toneladas. Até agora, 4,4% da safra atual já foi colhida.

Em relação ao milho, a situação é um pouco mais confortável, com perda de 0,3%, também por conta da estiagem. Inicialmente, a produção do milho era estimada em 7,158 milhões de toneladas, e agora em 7,130 milhões de toneladas. No ano passado, quando a área cultivável foi maior, a produção chegou a 7.606 milhões.

Com as perdas na lavoura, a expectativa de uma supersafra para este ano acabou frustrada. ?Antes se falava em supersafra, com a produção de 30 milhões de toneladas. Agora, a estimativa caiu para 27,2 milhões?, apontou Manfio, referindo-se à queda de quase 10% das projeções iniciais. Segundo ele, faltou não só chuva, mas também estímulo de preços no mercado internacional. ?Na época do plantio, a saca da soja estava em quase R$ 30,00. Agora, está entre R$ 25,00 e R$ 26,00?, apontou. Para Manfio, a situação só deve reverter caso as lavouras de inverno aumentem mais do que o previsto.

Produção no País

Em todo o País, a produção nacional de cereais, leguminosas e grãos poderá chegar a 134,522 milhões de toneladas neste ano – crescimento de 12,96% sobre 2003, quando a produção foi de 119,085 milhões de toneladas. De acordo com a previsão do IBGE, as regiões que deverão apresentar crescimento mais significativo são Sul (13,48%) e Centro-Oeste (16,32%).

As projeções do IBGE envolvem simulações em relação aos cultivos de inverno, como trigo, aveia, cevada e centeio, e também para as segundas e terceiras safras de alguns produtos.

De acordo com o estudo, a região Sul deverá arcar com 41,14% da produção nacional de cereais, leguminosas e grãos – o que corresponde a 55,343 milhões de toneladas; o Centro-Oeste com 34,47%, o Sudeste com 13,53%, o Nordeste deverá responder por 8,09% da produção e o Norte com 2,76%.

Segundo as estimativas do instituto, os produtos que deverão registrar maior crescimento na safra são soja e feijão. A soja em grão deve crescer 28,30% e o feijão na primeira safra, 22,79%. Também deve apresentar crescimento a produção de algodão herbáceo em caroço (5,06%), arroz em casca (1,91%), mamona (10,29%), milho em grão 1.ª safra (2,44%) e sorgo em grão (1,01%).

Campo pede socorro negociando dívidas

Os agricultores vão pedir ao governo e às empresas privadas – fornecedoras de insumos agrícolas – renegociação e parcelamento das dívidas. As alegações são o câmbio (desvalorização do dólar em relação ao real) e a queda dos preços dos principais produtos do País. De acordo com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o problema é grave para os produtores de soja, milho, arroz, trigo e algodão.

A proposta será apresentada ao governo oficialmente no dia 2 de março, em reunião na cidade goiana de Rio Verde, com a presença de governadores de Estado, produtores rurais e do ministro Roberto Rodrigues (Agricultura). O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) também será convidado.

Entre julho de 2004 e janeiro deste ano, o governo liberou R$ 32,8 bilhões programados para serem aplicados em custeio, investimento e comercialização da safra 2004/2005. Desse total, R$ 23,56 bilhões são para custeio e comercialização. A CNA não informou o valor da dívida que poderá ter seu pagamento adiado.

De acordo com Macel Caixeta, presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, a proposta é pagar 20% da dívida dos financiamentos para custeio da produção neste ano e diluir o resto em quatro anos.

?A gente está fazendo isso para evitar uma quebra de produção no próximo ano. Porque senão o agricultor vai ficar sem condições de plantar a próxima safra, e isso pode ocasionar um desabastecimento no País?, disse Caixeta.

Segundo ele, a crise é causada por um estoque mundial muito grande dos principais produtos brasileiros, o que provoca queda de preço, e pelo real forte.

Ele explicou que, quando os insumos para produção foram comprados, o dólar estava a R$ 3,10. ?Estamos assustados. O dólar a R$ 2,57 assusta qualquer produtor.? Com o dólar mais barato, os produtores recebem menos reais pelos produtos exportados.

O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e ministro interino, Ivan Wedekin, disse que o governo ainda não tem como avaliar a proposta da CNA: ?Vamos aguardar o pedido para avaliar e se posicionar?.

Wedekin ressaltou que o ministério já está negociando com a área econômica do governo apoio para a comercialização. Segundo ele, ainda há a possibilidade de o cenário mudar até o início da colheita, em março. ?O que há agora é um cenário esperado, mas o mercado é dinâmico?, afirmou.

Na segunda, o governo prorrogou por 30 dias R$ 84 milhões em dívidas que venciam neste mês para plantadores de trigo da região Sul e R$ 75 milhões para plantadores de algodão. Os motivos foram a seca no Sul e o baixo preço do algodão.

Guia vai esclarecer sobre transgênicos

?As informações sobre organismos geneticamente modificados chegam bastante distorcidas e sem embasamentos técnicos aos consumidores. A grande maioria das pessoas não sabe o que são transgênicos e, desta forma, também criam conceitos de valores distorcidos sobre o assunto?. A afirmação é da advogada especialista em relações de consumo, Patrícia Fukuma, que ontem foi uma das integrantes da organização não governamental Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) – com três anos de atuação no Brasil – a participar do lançamento do guia ?Transgênicos – você tem direito de conhecer?, na Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), em Curitiba.

Com quinze páginas e preparado pelo próprio CIB com a colaboração de cientistas e profissionais liberais especializados em diferentes áreas de Biotecnologia (que é a base dos transgênicos), o guia contém aspectos jurídicos, científicos e sociais. Tem como objetivo informar de forma clara e didática sobre as principais questões que envolvem a Biotecnologia e sua presença no cotidiano das pessoas.

Na opinião do agrônomo e doutor em Economia, José Maria da Silveira, atualmente agricultura é uma ciência e o Brasil não pode deixar de investir em Biotecnologia, correndo o risco de ficar para trás e perder o histórico de tudo o que já foi feito na área. ?Os maiores interessados no assunto são os países agrícolas. A Biotecnologia é capaz de proporcionar a criação de produtos com valores agregados e que ainda são funcionais. No Brasil, há espaço suficiente tanto para os agricultores que queiram quanto para os que não queiram trabalhar com organismos geneticamente modificados cultivarem seus produtos?, declarou.

Segundo o farmacêutico bioquímico e professor da Universidade de São Paulo (USP), Flávio Finardi, a Biotecnologia está presente na vida das pessoas há vários anos – na agricultura, indústria farmacêutica, alimentícia, química, entre outras – e, em mais de dez anos de uso em todo o mundo, nunca se registrou impacto negativo dos alimentos transgênicos sobre a saúde das pessoas. ?Os riscos são inerentes aos processos de modificação assim como o são em toda atividade humana. Porém, são quase zero à saúde dos consumidores e compensados, por exemplo, pelas quedas de custos operacionais e de manejo agrícola?.

Para Flávio, Patrícia e José Maria, também é um erro dizer que quem trabalhar com organismos geneticamente modificados vai ficar atrelado e pagando royalties a multinacionais pelo resto da vida. Isto seria uma pseudoverdade transformada em uma grande mentira. ?No Brasil, existe lei de propriedade industrial, que garante às empresas o direito de serem remuneradas pelo uso de suas tecnologias. A utilização ou não de transgênicos deve ser uma opção de cada um, havendo liberdade de escolha. O transgênico é uma ferramenta a mais e que não pode ser tolhida?, constatou Patrícia. (Cintia Végas)

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