Safra menor e tensão entre produtor e indústria devem afetar setor

A forte estiagem no parque citrícola comercial brasileiro – entre São Paulo e o Triângulo Mineiro – deve prejudicar a oferta, com uma menor safra de laranja em 2015. Além da quebra na produção, o setor deve seguir pautado pela tensão entre citricultores e a indústria produtora de suco, mesmo após a criação do Consecitrus, órgão paritário para a discussão dos principais temas da cadeia citrícola.

A seca de 2014 ajudou no rendimento das frutas colhidas para a atual safra, pois melhorou o teor de açúcar das laranjas. Mas a estiagem prejudicou a florada das variedades precoces e de meia estação e dificilmente a oferta para a safra 2015/2016, a ser iniciada oficialmente em julho, deve superar os 308 milhões de caixas (de 40,8 kg) colhidas no atual período. “Seguramente a queda vai ser significativa”, resumiu o presidente da Câmara Setorial da Citricultura, Marco Antonio dos Santos.

Além da estiagem, o presidente da Associação Brasileira de CitricultOres (Associtrus), Flávio Viegas, cita o menor trato cultural em pomares, alguns até abandonados, como outro motivo para a queda esperada na produção de laranja. Com isso, Viegas e Santos esperam que os preços aos produtores na próxima safra sejam mais remuneradores. O atual ciclo começou com preços em torno de R$ 7 a caixa, que subiram a R$ 10 durante o avanço da colheita. Os citricultores que participaram de operações de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) obtiveram o preço mínimo de R$ 11,45 a caixa.

Com os cortes nas despesas e o ajuste fiscal na economia programados pelo governo federal para 2015, os produtores temem que os recursos do Pepro, estimados em R$ 50 milhões em 2014, caiam. “O governo vai fechar torneira e não sei se vamos conseguir o Pepro, que só na atual safra ajudou o escoamento de 20 milhões de caixas”, lamentou Santos, da Câmara Setorial.

Após amargar uma queda média de 9% no volume e de 10% na receita com exportações, a indústria também traça um cenário pouco positivo para 2015. A queda no consumo mundial de suco e a retração superior a 10%, na comparação anual, das exportações ao mercado europeu, principal destino da bebida brasileira, são os principais entraves às processadoras brasileiras. “Esperamos que as exportações da segunda parte do ano-safra (a partir de janeiro) deem uma tracionada, mas o ano será complicado”, afirmou Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).

O executivo cita como exemplo de queda no consumo de suco de laranja o avanço do suco de maçã na Europa, bebida que também pode ser utilizada em refrigerantes à base de frutas. Essa oferta ocorreu principalmente pela Polônia, que teve uma supersafra de maçã e, diante das dificuldades de exportação para a Rússia, por conta do embargo ao país, escoou a fruta e a bebida na Europa. “A cada ano dividimos pedaço menor do mercado”, afirmou Netto.

Tensão

Pouca mudança deve ter a relação tensa entre produtores e a indústria em 2015. As discussões e acusações entre as duas partes serão levadas ao Conselho dos Produtores de Laranja e da Indústria de Suco de Laranja (Consecitrus), criado oficialmente em 2014 com o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

Antes mesmo da aprovação do estatuto do Consecitrus, os dois lados já sinalizam que temas polêmicos podem travar o foro de discussão do setor. A ideia de citricultores de incluir no estatuto uma fórmula transitória para calcular o preço da fruta paga pela indústria é um exemplo de proposta considerada fora de cogitação pela indústria. “O Consecitrus não é agência reguladora e o estatuto apenas define as atribuições do órgão”, disse uma fonte das companhias.

O diretor-executivo da CitrusBR informou que a indústria não vai se manifestar sobre o estatuto até receber a proposta do documento dos produtores. Já Viegas, da Associtrus, defende a inclusão da precificação provisória no estatuto e dá sinais de que a eterna briga com a indústria continuará no Consecitrus. “A indústria não tem interesse que isso funcione, quer apenas cumprir a exigência do Cade da forma mais básica possível”, afirmou.

Além das discussões, o Consecitrus terá de arrumar ainda um novo diretor-executivo, já que o atual, o ex-secretário de Agricultura de São Paulo João Sampaio, disse que fica só até o anúncio de outro nome para substituí-lo.

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