Crise

Safra atual de cana deve ser maior do que a de 2007

“Tínhamos uma boa expectativa para a safra da cana-de-açúcar este ano, mas a crise financeira mundial vai fazer com que os produtores fechem o ano no vermelho.” A afirmação é do presidente da Associação de Produtores de Álcool e Açúcar do Paraná (Alcopar) e coordenador nacional do Fórum de Liderança Sucroalcooleira, Anísio Tormena. Ele explica que a falta de capital, somada a fatores como clima e alta nos insumos, vêm deixando os produtores temerosos – embora a safra da cana este ano deva superar a do ano passado em 11,4% e a tendência de crescimento da demanda interna por seus derivados nos próximos anos, além das exportações, seja otimista, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O cenário descrito por Tormena atualmente, porém, não é dos mais animadores. Embora acredite que haverá uma solução diante de todo esse colapso financeiro, uma vez que não é a primeira crise que o setor enfrenta, certamente, diz ele, haverá seqüelas para a área sucroalcooleira do Paraná, a segunda maior do Brasil, perdendo apenas para São Paulo. “Estamos sofrendo com esse problema. Algumas empresas estão muito vulneráveis a tudo isso que vem acontecendo e estão com dificuldade de honrar seus compromissos. Se medidas para sanar essa crise não forem tomadas, poderemos ter cortes na produção e nos trabalhadores”, avisa.

Para chamar a atenção do governo federal, a associação preparou um documento que foi apresentado em uma conferência sobre biocombustíveis em São Paulo, semana passada. O conteúdo do material, diz o presidente, revela a necessidade dos produtores em receber o apoio para o segmento e da urgência em abrir linhas de créditos. “Assim, seria possível enfrentar a crise sem maiores percalços. Precisamos de capital para poder movimentar o setor. Nosso segmento é muito importante para ficar sem ajuda, pois produzimos produtos nobres.”

Além da crise financeira, outros fatores contribuíram para dificultar a vida do setor sucroalcooleiro. Segundo Tormena, o excesso de chuvas, principalmente no mês de agosto, e a alta dos insumos agrícolas, como o fertilizante, que duplicou de preço, fez com que a crise se intensificasse. Isso acabou refletindo nos números da safra. “Nossa previsão era colher em torno de 55 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Contudo, devemos colher 42 milhões. Apesar de tudo, a safra será ligeiramente melhor que a do ano passado, quando obtivemos 41 milhões de toneladas.”

Área

Embora a crise tenha afetado todo o setor sucroalcooleiro do Brasil, houve um aumento de 15,7% na área plantada de cana-de-açúcar. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram cultivados 917,9 mil hectares a mais que em relação a 2007, com uma área total estimada em 6,53 milhões de hectares. São Paulo foi mais uma vez o destaque, com crescimento de 12,2% da área cultivada. O Paraná vem em segundo lugar, com 90,9 mil hectares a mais em comparação ao ano anterior. Isso significa um aumento de 17,7%. Só no Estado, o segmento gera 80 mil empregos diretos e 500 mil indiretos e tem nas regiões norte e noroeste o seu expoente.

Trabalhadores sentem efeitos da insegurança

Arquivo
Cortador de cana: profissão emprega cerca de 60 mil pessoas no Paraná.

Trabalhadores que atuam no setor sucroalcooleiro estão preocupados com os desdobramentos da crise financeira que atingiu todo o mundo. Com a dificuldade das empresas se manterem, algumas delas estão atrasando o salário dos funcionários. Um exemplo disso é a Usina Central do Paraná, em Porec,atu, norte do Estado. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porecatu, Helmut Rossmam, a indústria não fez safra este ano. “Tivemos alguns atrasos nos salários e chegamos a realizar uma greve para protestar contra a situação. Quem lida na lavoura tem que ir para cidades vizinhas ou procurar outra frente para poder trabalhar e sustentar a família”, revela. Ainda de acordo com Rossmam, a usina tem intenção de voltar a trabalhar na produção no final de fevereiro de 2009, porém, ele ainda tem suas dúvidas. “Só vendo para crer”, diz. A reportagem de O Estado procurou pelos representantes da usina, mas não conseguiu contato para explicar a situação. Para o diretor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep) e responsável pela política salarial dos trabalhadores rurais, Jairo Correa, não é apenas a crise que preocupa. “Estamos sempre nos reunindo com esses trabalhadores a fim de encontrar uma solução para eles. Porém, não é só a crise financeira que nos assusta. Temos ainda pela frente a mecanização da colheita da cana, que deve gerar desemprego na área”, conta.

O diretor lembra do protocolo que estabelece que a queima da cana-de-açúcar, utilizada para facilitar o processo de colheita, será proibida em todo o Brasil a partir de 2018, abrindo espaço para as máquinas colheitadeiras. “Não somos contra o empresário utilizar essas máquinas. Porém, ficamos preocupados com os trabalhadores braçais. Acredito que o ideal seria dar capacitação para eles, tanto para serviços no campo como para a cidade. Só de colhedores de cana, estimamos que sejam 60 mil trabalhadores no Estado”, informa.

Apesar das dificuldades, produção será 11,4% superior este ano

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou que a atual safra de cana-de-açúcar em todo o País deverá atingir a marca de 558,72 milhões de toneladas. Isso significa um aumento de 11,4% em relação às 501,54 milhões de toneladas processadas na safra anterior. O principal destino da matéria-prima será o segmento sucroalcooleiro, com 32,78 milhões de toneladas para produção de açúcar. Para o álcool, a Conab informa que o volume do combustível deve ser na ordem de 27,09 bilhões de litros, aumentando em 17,73% a produção nacional. O restante da produção é destinado para a fabricação de rapadura, cachaça, ração, mudas, entre outros produtos.

Nas regiões norte/nordeste, houve um aumento de 7,85% na dimensão da safra, com previsão de colheita na ordem de 71,33 milhões de toneladas. Na região centro-sul (composta por estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste), os resultados apresentados são de expansão de 11,94% na produção de cana, com uma safra de 487,38 milhões de toneladas. Seguindo a tendência, o álcool deve ter um expressivo aumento na produção. No norte/nordeste e no centro-sul, é esperado crescimento de 17,75%. Já o açúcar teve expansão mais modesta: 2,43% para o norte/nordeste e 5,24% para o centro-sul.

Por conta dessa substancial produção do etanol, o analista da Conab Ângelo Bressan estima que a demanda interna deve saltar dos 16,47 bilhões de litros em 2007 para 24,78 bilhões em 2011. Também em ritmo de crescimento seguem as exportações. A Conab informa que até o final de 2008 devem ser exportados 4,17 bilhões de litros, ou 18,21% a mais que os 3,53 bilhões de 2007. A previsão para 2011 é que chegue a 6,10 bilhões de litros, aumento superior a 70% sobre o resultado de 2007.

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