Rússia se move para apoiar moeda em colapso e aumenta taxa de juros

A crise cambial do rublo russo, alimentada pelas sanções ocidentais e pelo preço do petróleo, estimulou o Banco Central da Rússia a elevar taxas de juros na noite de segunda-feira, um movimento drástico com objetivo de dar apoio a moeda em colapso.

A ação surpresa veio ao final de um dia turbulento para os mercados financeiros globais. Moedas e ações de diversos mercados emergentes foram afetadas pelo agravamento da queda do preço do petróleo e pelas preocupações sobre os futuros aumentos nas taxas juros dos Estados Unidos.

O epicentro dos problemas foi a Rússia, onde o rublo atingiu recorde de baixa em sua maior desvalorização em um dia desde 1999. A desvalorização do rublo, descrita por analistas como “impressionante” e “extrema” solicitou ao banco central da Rússia um forte aumento na taxa de juros de referência, de 6,5 pontos porcentuais, de 10,5% para 17% numa só tacada. No final do dia, na segunda-feira, um dólar comprava 65 rublos, contra 33 rublos no início do ano.

O BC da Rússia, que anunciou a decisão após uma longa reunião de conselho, afirmou que elevou as taxas por causa da desvalorização do rublo e das ameaças de inflação. A autoridade monetária também elevou a taxa recompra fixa para 18%, de 11,5%.

As mudanças podem empurrar a Rússia para uma recessão e devem dar um duro golpe nos consumidores russos, que irão enfrentar taxas ainda mais altas para emprestar a moeda. “Adeus, crescimento”, disse o analista do BCS Financial Group, Luis Saenz.

O economista da RBC Capital Markets, Daniel Tenengauzer, por outro lado, avaliou a mudança nas taxas como um “divisor de águas”. “A Rússia percebe que suas ações precisam ser mais do que cosméticas. É preciso tomar decisões significativas e dolorosas sobre a política monetária e certamente esse é o passo certo”, disse. O analista ponderou, no entanto, que uma recuperação sustentada do rublo é improvável, a não ser que o governo invista para apoiá-la.

Outros analistas dizem que a medida deve ajudar a evitar um colapso financeiro no país. “Não é sobre prevenir uma recessão, mas sim evitar uma crise financeira em grande escala causada pela queda abrupta do rublo”, disse o estrategista do Rabobank em Londres, Piotr Matys.

O Banco Central da Rússia parou de intervir para desacelerar a queda do rublo em novembro, após vender quase US$ 75 bilhões das suas reservas em moeda estrangeira com pouco impacto na moeda. A Rússia é o quarto país em reservas de moeda estrangeira do mundo, mas as reservas russas caíram para US$ 416,2 bilhões no início de dezembro, o menor nível desde 2009.

A Rússia também é um dos exportadores de petróleo lutando para controlar os impactos negativos da queda de mais de 47% nos preços da commodity desde junho. Outros países emergentes e exportadores de petróleo também tentaram acalmar os investidores por meio de intervenções ou altas taxas de juros. O banco central do México tem feito intervenções pela primeira vez em mais de dois anos para apoiar o peso. A autoridade monetária da Nigéria elevou as taxas de juros para o recorde de 13% na última reunião para estabilizar a Naira.

“Mas nada que as economias emergentes possam fazer vai interromper essas potenciais fugas de capitais uma vez que economia dos EUA se recupera”, ponderou o analista do fundo SLJ, Stephen Jen. Muitos investidores esperam que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) sinalize ao final da sua próxima reunião, na quarta-feira, que está mais perto de aumentar as taxas de juros do que havia indicado anteriormente. Tal anúncio vai ter forte impacto nos mercados emergentes, que nos últimos anos, têm se beneficiado das políticas de estímulo dos EUA. Fonte: Dow Jones Newswires.

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