A situação é a mesma de países como Irlanda e Espanha, onde a necessidade de resgatar o sistema bancário local fez a dívida do governo atingir níveis exorbitantes e obrigou o país a pedir um pacote internacional de resgate. Desta vez, entretanto, a fonte de preocupações da zona do euro vem de um pequeno país insular no Mar Mediterrâneo: o Chipre. Na madrugada do último sábado, os ministros de Finanças da zona do euro concordaram com a inédita decisão de bloquear até 10% dos depósitos dos clientes bancários da pequena ilha europeia, medida que pegou os correntistas cipriotas e os mercados de surpresa e contribui para as quedas acentuadas nos índices acionários da Ásia e Europa nesta segunda-feira.

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O produto interno bruto (PIB) do Chipre, em torno de 17,8 bilhões de euros, representa apenas cerca de 0,2% da economia da zona do euro, mas isso não faz com que o país seja insignificante para o bloco. No fim do ano passado, a troica – formada por Banco Central Europeu (BCE), Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI) – estimou a necessidade de ajuda para o sistema bancário cipriota em 10 bilhões de euros, quase 55% do PIB. No caso da Irlanda, a necessidade de recapitalização dos bancos obrigou à injeção de 64 bilhões de euros. Na Espanha, segundo as autoridades locais, os bancos precisarão de um total de quase 40 bilhões de euros.

A decisão do Eurogrupo prevê o empréstimo desses 10 bilhões de euros ao Chipre pela troica a fim de solucionar os problemas bancários do país, mas as primeiras reações causaram estranhamento e pessimismo. Na raiz do problema, está a polêmica medida que autoriza o governo a ficar com parte do dinheiro dos clientes que está depositado nos bancos da ilha. Poupadores nacionais ou estrangeiros que tiverem mais de 100 mil euros serão taxados – já que a medida vem na forma de um novo imposto – em 9,99%. Contas com menos de 100 mil euros terão 6,75% do valor bloqueado.

Segundo uma análise do banco francês BNP Paribas, a dívida pública do Chipre atingiu quase 90% do PIB no final do ano passado, após ter terminado 2011 em 72% do PIB e poderia chegar a 150% do PIB se o país tivesse de recapitalizar os bancos locais com recursos públicos. Diante da ameaça à solvência do governo cipriota, o assunto estava em discussão entre autoridades europeias desde o último trimestre de 2012, à espera da eleição presidencial realizada em fevereiro para negociar uma acordo.

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Na semana passada, entretanto, as declarações de diferentes autoridades da zona do euro sinalizavam que um acordo ainda parecia distante, com o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, divulgando em sua conta no Twitter que a ajuda da União Europeia ao Chipre seria discutida na reunião do bloco marcada para a sexta-feira e autoridades da Alemanha negando que o assunto estivesse na agenda do encontro.