Uma péssima notícia para os mais de 50 milhões de brasileiros que têm dinheiro na caderneta de poupança: eles acabam de ficar mais pobres. Em novembro passado, pela primeira vez desde 1995, a inflação oficial medida pelo IPCA, acumulada no ano, vai ultrapassar os rendimentos da poupança no mesmo período. Em outras palavras, os preços já estão subindo em ritmo mais acelerado que o ganho das cadernetas, o que significa que o dinheiro aplicado começa a perder valor e que o poder de compra da população está caindo. Esse é o cenário do chamado “juro real negativo”.

O risco disso é que os investidores resolvam partir para o consumo. Isso levaria à tão temida inflação de demanda e representaria pressão ainda maior sobre os índices de preços. “A taxa de juros reais negativa é um desestímulo à poupança. Existe o risco de as pessoas acharem que é mais vantajoso sair gastando do que continuar investindo”, diz Luis Afonso Lima, economista do BBV Banco.

Entre janeiro e novembro deste ano, a poupança rendeu 8,21%. No mesmo período, a inflação pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculada pelo IBGE, deverá ficar em 9,65%, segundo projeções médias do mercado.

Se for considerada a alta de preços de 9,27% medida pelo IPCA até 15 de novembro e acumulada em 12 meses, a inflação já superava o ganho de 8,97% das cadernetas em um ano (entre dezembro de 2001 e novembro deste ano).

Até então, a rentabilidade acumulada das cadernetas só havia perdido para os índices de preços no atacado, os chamados IGPs. Mas, segundo especialistas, não fazia sentido comparar o retorno da poupança com a inflação dos IGPs, que refletem os preços do setor produtivo – e não os da ponta do varejo.

“Os IPCs representam a inflação que realmente atinge o bolso do consumidor. E são os índices que devem ser comparados com o retorno dos investimentos. Essa comparação dá uma medida dos juros reais”, diz Marcelo D?Agosto, sócio da consultoria de investimentos pessoais InvestMate. D?Agosto também acredita que os juros reais negativos trazem o risco de uma inflação ainda maior. “Quando alguém investe dinheiro, está abrindo mão de consumir hoje para gastar no futuro. Se os preços sobem mais rapidamente que os juros reais das aplicações, esse incentivo da poupança perde força.”

Os riscos trazidos por esse cenário reforçam a expectativa do mercado de que o Banco Central voltará a aumentar a taxa anual de juros, atualmente em 22%.

Para Mauro Halfeld, professor de finanças da Universidade Federal do Paraná, o brasileiro terá de começar a se acostumar, agora, com rentabilidades mais baixas para seus investimentos: “A fase do almoço grátis servido durante o Plano Real, de juros altos e risco baixo, acabou.”

Para o especialista, os investidores da poupança que quiserem ganhos mais altos terão de partir para aplicações mais agressivas.

Ainda assim, as aplicações de maior risco, como os fundos de investimento, também tendem a render menos. Dados do site Fortuna mostram que, até o fim de novembro, a rentabilidade líquida dos fundos de renda fixa acumulada no ano havia sido de 11,2%, contra os 9,65% esperados para o IPCA no mesmo período.

FGTS

A remuneração das cadernetas de poupança é de 6% ao ano mais a variação da TR (Taxa Referencial). A TR é calculada pelo governo com base nos juros médios do mercado e, sobre ela, é aplicado um redutor. Como as cadernetas, o dinheiro dos trabalhadores aplicado no FGTS – remunerado pela TR mais 3% ao ano – também está sendo fortemente corroído pela inflação.

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