Renda dos mais pobres cresceu 49% em seis anos

A desigualdade na renda dos brasileiros apresentou uma grande redução de ritmo de 2001 a 2007. A renda acumulada dos 10% mais pobres da população brasileira cresceu 49,25% no País no período patamar mais de sete vezes superior ao aumento da renda acumulada no período entre os 10% mais ricos da população (6 70%). A análise é do pesquisador Marcelo Neri, do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), que divulgou nesta sexta-feira (19) o levantamento “Miséria e a Nova Classe Média na Década da Igualdade”.

A pesquisa foi feita com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) anunciada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Esse período trouxe muitas notícias boas no campo da renda, como aumento do emprego com carteira assinada, por exemplo”, comentou o pesquisador. Entretanto, ele observou que, especificamente no ano de 2007, os 10% mais pobres da população sentiram um recuo de 5,22% em sua renda média, em comparação com os ganhos de 2006. A ausência de expansão em programas assistenciais no ano passado, como o Bolsa Família, pode ter contribuído para isso.

O pesquisador comentou que a desigualdade de renda, que ficou estagnada entre 1970 e 2000, sofreu sucessivas quedas anuais de 2001 a 2007. “Não há, na história documentada brasileira, que vem desde 1960, nada similar à redução de desigualdade observada desde 2001”, afirmou. “Somente de 2006 para 2007, 1,5 milhão de pessoas cruzaram a linha da miséria (abaixo dos R$ 135 mensais por pessoa)”, afirmou.

Ele lembrou que, de acordo com o levantamento, em 2007 a classe dos miseráveis abrange 18,11% do total da população brasileira, sendo que em 2006 essa fatia era maior, de 19,18%.

“No ano de 2007, quem mais ganhou foi a camada ‘do meio’ da população, a chamada classe média”, assinalou Neri, explicando que isso é mais um sinal do recuo da desigualdade do País. De 2006 para 2007, a classe média saltou de 45,08% para 47,06% do total da população brasileira. “De 2001 até 2007, muitos miseráveis saíram da classe E e nem passaram pela classe D: foram direto para a classe C, que nós consideramos classe média” afirmou.

O CPS/FGV considera como classe E famílias com renda mensal entre zero até R$ 768. Por sua vez, as famílias de classe D seriam com rendimento entre R$ 768 até R$ 1.064. Já a classe média abarcaria renda mensal entre R$ 1.064 até R$ 4.591.

Para Neri, o ano de 2007 se apresenta como uma síntese do que ocorreu entre os principais indicadores sociais ao longo da década. Ele explicou que a renda per capita no ano passado cresceu 2,26%, porcentual próximo ao registrado na média dos últimos sete anos até 2007 (2,5% ao ano). “Além disso, o ritmo de redução da miséria em 2007 está duas vezes mais rápida do que o requerido para atender às metas de redução de extrema pobreza das metas do milênio da ONU (que é de queda de 2,73% ao ano)”, disse. “Se tivermos os próximos 10 anos iguais aos de 2007, o Brasil mudará bastante e para melhor”, disse.