Renda do trabalhador cai, mas mantém ganho

Rio

(AE e AG) – O rendimento médio dos trabalhadores brasileiros recuou 1,8% em maio na comparação com o mesmo mês do ano passado. O salário médio dos trabalhadores brasileiros está em queda desde janeiro de 2001 na base de comparação anual. Mas, a queda ainda não anulou os ganhos do início do Plano Real.

Em maio, o rendimento médio das pessoas ocupadas, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, situou-se em R$ 792,76 – o equivalente a quatro salários mínimos. O valor é 1% superior ao de abril. Nessa comparação, contudo, a leitura do aumento é comprometida por fatores sazonais.

Na média dos primeiros cinco meses do ano, o valor médio dos salários mostra queda de 4,6%. O maior recuo ocorre no rendimento dos trabalhadores por conta própria (5,8%). Os trabalhadores com carteira assinada têm diminuição de 5,3%, enquanto os sem carteira observam ligeiro aumento de 0,3% em seus rendimentos.

As quedas consecutivas no rendimento médio do trabalhador há 17 meses não foram suficientes para anular os ganhos obtidos desde o início do Plano Real. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou ontem que houve um aumento real acumulado de 14% na renda das pessoas ocupadas entre julho de 1994 e maio deste ano. O crescimento esteve concentrado, entretanto, nos quatro primeiros anos do Real. Após um ano estável para o rendimento em 1998, houve perdas anuais contínuas, que prosseguiram nos cinco primeiros meses deste ano.

De 1994 a 1997, houve aumento de 20% no rendimento, tendência que foi revertida para queda de 11% no período de 1998 até o fim do ano passado. Os dados foram deflacionados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Houve pico do aumento da renda em 1995 (11%), após expansão de 6% em 1994. Os trabalhadores elevaram os rendimentos também em 1996 (7%) e 1997 (2%), mas a tendência acabou no ano seguinte, com a estabilidade em relação ao período anterior.

A partir daí, foram registradas quedas em 1999 (-6%), 2000 (-1%), no ano passado (-4%) e no acumulado de janeiro a maio deste ano (-4,6%). A pesquisa do IBGE abrange seis regiões metropolitanas do País.

Para Ruy Quintans, professor do Ibmec Business School, a queda no rendimento a partir do segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso, depois do crescimento da renda nos primeiros quatro anos, ocorreu porque o modelo proposto pelo Plano Real ficou “incompleto”.

Ele explicou que os primeiros anos foram beneficiados pela parte que “deu certo” no plano, ou seja, a estabilidade econômica. Mas essa estabilidade, como lembra, deveria ter sido acompanhada por uma série de reformas, como as tributária e trabalhista, que acabaram não sendo feitas. Somando esse fator à série de choques externos – como as crises russa, asiática e argentina e a desaceleração econômica mundial – que vieram em seqüência, o resultado foi que a economia deixou de crescer o suficiente para reduzir o desemprego ou ampliar o rendimento. “O modelo neoliberal pressupõe distribuição de renda em conseqüência de crescimento econômico”, ressaltou.

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