Relator mudará pontos polêmicos da reforma

Brasília

– O relator da reforma tributária no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), está tentando fechar a fórmula mágica para reduzir os pontos de atrito em torno do texto aprovado na Câmara e cumprir a tarefa quase impossível de aproximar sua proposta do que querem governadores e empresários.

A chamada tesoura de ouro que o relator prometeu usar no projeto que começa a tramitar no Senado vai cortar do texto artigos polêmicos, como a vinculação da taxa de iluminação pública ao consumo de energia das residências, e a criação da contribuição de limpeza de parques, vias e logradouros. Mas o relatório ainda deverá deixar em aberto a possibilidade da criação do chamado selo-pedágio, um selo obrigatório inclusive para cidades ou vias onde não existam pedágios.

Também deverá ficar fora do parecer que Jucá tenta fechar até a próxima semana, a complicada legislação que trata da transição do ICMS da origem para o destino. Para conquistar os governadores, a repartição dos recursos da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) vai ficar da forma que foi negociada entre eles e o Palácio do Planalto.

A União fará o repasse de 25% dos recursos diretamente aos estados, como prometeu o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Uma legislação infraconstitucional vai estabelecer incentivos para os governadores que quiserem participar de um plano nacional de melhoria das estradas.

Respeito

“Vamos manter e respeitar o acordo com os governadores”, prometeu o senador.

Ele confessou que “está muito otimista com a reunião desta segunda-feira com os 27 governadores, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)”, disse. Segundo Jucá, o Senado é parceiro dos governadores, porque muitos parlamentares da Casa – 22 ao todo – já governaram os estados e muitos ainda sonham em governar.

“Ninguém vai querer afundar o Titanic porque todo mundo vai estar dentro do barco. Então é importante toda a construção do modelo que faça a economia crescer para os estados ficaram fortes”, comentou.

O relator confessou que a grande preocupação do momento é resolver a questão dos insumos agrícolas. Segundo ele, o depoimento do presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Antônio Ernesto de Salvo, na sexta-feira na CCJ, deixou todos os parlamentares convencidos de que o setor terá que ter um tratamento diferenciado para evitar o aumento dos preços dos alimentos.

O que deverá mudar no projeto original

Taxa de iluminação pública. O texto deverá acabar com o dispositivo que cria a contribuição de iluminação pública com base no consumo de energia elétrica de cada residência ou empresa. O texto que será suprimido diz o seguinte: “a contribuição terá como base o consumo de energia elétrica e poderá ser cobrada na fatura respectiva”.

Taxa de limpeza. Os municípios não serão autorizados, pelo menos pela Constituição, a cobrarem contribuição relativa à limpeza urbana de parques e logradouros. Parte do texto que será suprimido: “os municípios e o distrito federal poderão instituir contribuição para o custeio dos serviços de limpeza de vias, logradouros, praças, parques no território do município.”

Cofins sobre importados. O texto também suprime a possibilidade de cobrança da Cofins (contribuição para o financiamento da seguridade social) sobre as importações. Este é um dos artigos muito criticados pela oposição e pelos empresários que alegam encarecimento dos custos de produção. Não significa que o governo vai desistir da cobrar uma contribuição sobre importação. O artigo 195 estende aos importados a Cofins.

Transição da cobrança do ICMS. O novo texto deverá suprimir parte da legislação do ICMS no mecanismo de mudança da cobrança da origem para o destino, mas manterá toda a legislação pertinente à unificação da legislação e a fixação de cinco alíquotas para o ICMS.

Governadores serão ouvidos nesta segunda

Os governadores estarão debatendo as mudanças no sistema tributário, amanhã, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Todos os governadores foram convidados. Durante a audiência pública sobre a proposta de reforma tributária, anteontem, a CCJ aprovou quatro requerimentos de convocação de expositores sobre a matéria. No debate agendado com prefeitos, na próxima terça-feira (14), às 17h, também devem participar os economistas José Roberto Afonso e Paulo Rabello de Castro, além dos especialistas em questões tributárias Paulo de Tarso Lustosa da Costa e Sulamis Dain.

Outros requerimentos de convocação de palestrantes devem ser votados na próxima semana. Enquanto os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e José Agripino (PFL-RN) defenderam a vinda de debatedores ligados ao pólo industrial da Zona Franca de Manaus e a entidades de classe não vinculadas à CUT e à Força Sindical, o relator da PEC n.º 74/2003 na CCJ, senador Romero Jucá (PMDB-RR), quer promover audiências públicas com representantes da área de fiscalização tributária e dos órgãos de desenvolvimento regional.

Esporte

Na terça-feira, o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, também comparecerá à Comissão de Educação do Senado. Ele vai discutir com os senadores os impactos da proposta de reforma tributária na área esportiva. O ministro deverá falar sobre a manutenção ou não de mecanismos de benefícios fiscais concedidos às empresas que investem em esporte.

A comissão está realizando uma série de audiências para avaliar os impactos das mudanças no sistema tributário nas áreas de competência da comissão. Na última quarta-feira (8) foram discutidos os efeitos na Ciência e Tecnologia. O requerimento para convocação de Agnelo é assinado pelos senadores Osmar Dias (PDT-PR), Hélio Costa (PMDB-MG), Roberto Saturnino (PT-RJ), Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Marco Maciel (PFL-PE), Jorge Bornhausen (PFL-SC), Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Mozarildo Cavalcanti (PPS-RR).

Extrapauta

Logo após o encerramento da audiência pública, a CCJ aprovou parecer favorável da senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) ao projeto de lei da Câmara (PLC n.º 63/2003) que dispõe sobre a criação de 269 varas da Justiça do Trabalho no País. A instalação dessas varas seguirá um cronograma próprio, estando prevista a criação de 24 novas unidades em 2004, uma para cada região da Justiça do Trabalho do País; 38 varas em 2005 e, nos três anos seguintes, cada Tribunal Regional do Trabalho irá instalar 69 unidades por ano em sua respectiva área territorial.

Ao defender a aprovação da matéria, Ana Júlia destacou seu mérito em aperfeiçoar a luta contra o trabalho escravo no País, que considera prioritária no Estado do Pará, líder nas estatísticas nacionais dessa prática. Outra vantagem assinalada pela relatora refere-se à arrecadação de contribuições sociais e outros tributos realizada pelas 1.109 varas do trabalho atualmente existentes.

De acordo com a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), cada vara tem, em média, um superávit mensal de R$ 30 mil.

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