Reajustes salariais não acompanham a inflação, segundo Dieese

Das 309 negociações salariais realizadas no primeiro semestre deste ano, 85,8% resultaram em reajuste igual ou acima da inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

Nos dois últimos anos, os índices haviam sido maiores: 96,5% no primeiro semestre de 2006 e 96,6% em igual período do ano passado. Apesar da queda, foi o terceiro melhor resultado da série histórica, iniciada em 1996.

Os dados fazem parte do Balanço das Negociações dos Reajustes Salariais, divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

“É um resultado muito bom”, avaliou o economista Cid Cordeiro, do Dieese-PR. Segundo ele, a inflação maior este ano e a pressão de custos (insumos) impediram que um maior número de negociações resultassem em aumento real.

A inflação média acumulada nos últimos 12 meses – índice que baliza o reajuste salarial – ficou em 5,67% no primeiro semestre desse ano, contra 3,20% nos primeiros seis meses do ano passado e 4,13% em 2006.

O estudo revela que das 309 negociações fechadas entre janeiro e junho, 73,5% resultaram em aumento real (acima da inflação), 12,3% tiveram reajuste igual ao INPC e 14,2% ficaram abaixo da inflação.

“Houve um crescimento significativo de acordos e convenções coletivas abaixo da inflação”, destacou Cordeiro. No ano passado, apenas 3,4% das negociações ficaram abaixo da inflação. Entre os que tiveram reajuste acima da inflação este ano, a maior parte (75,8%) conseguiu até 1,50% de aumento real.

Setores e regiões

O comércio e a indústria foram os setores que apresentaram a maior concentração de reajustes salariais superiores à inflação: no mínimo, 80% das negociações de cada setor registraram aumentos reais.

Com relação às regiões geográficas, o Sul e o Centro-Oeste foram as que obtiveram os melhores resultados: aproximadamente 85% das negociações resultaram em reajustes superiores à inflação. No Sudeste e no Nordeste, o índice ficou em 70% e, no Norte, em 63%.

O estudo mostra ainda que as negociações realizadas no primeiro trimestre tiveram mais sucesso do que as do segundo. Em janeiro, 74,5% dos acordos tiveram reajuste acima da inflação; em fevereiro, o índice foi de 82,1% e, em março, de 79,5%.

Já no segundo trimestre, houve uma piora: apenas 63,6% das negociações resultaram em aumento real em abril, 71,7% em maio e 53,8% em junho. “Em abril, o Banco Central iniciou a elevação da taxa básica de juros, o que pode ter provocado um maior cuidado da parte patronal na hora de negociar aumentos reais”, explicou Cordeiro.

Segundo semestre

Categorias importantes como a dos bancários, metalúrgicos, petroleiros e eletricitários vão engrossar as negociações neste segundo semestre. “São categorias numerosas e com histórico de grandes mobilizações”, destacou Cordeiro.

Para o economista, o índice de negociações com reajuste igual ou acima do INPC entre julho e dezembro deve ser maior do que o registrado no primeiro semestre, de 85,8%, porém abaixo do segundo semestre do ano passado, que ficou em 89%.

“Este é um momento de transição. O PIB deve crescer entre 4% e 4,5% este ano, mas entre 3% e 3,5% em 2009”, apontou. O pé no freio da economia pode, portanto, influenciar na hora de negociar os reajustes salariais dos trabalhadores.