Queda do risco-Brasil tem influência sobre o juro

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem, que a queda do risco-País ajuda na redução consistente das taxas de juros. Ele previu que o risco continuará caindo nos próximos anos e que o Brasil pode vir a receber um “investment grade”. “A nossa expectativa é que a trajetória do risco-País continue em trajetória cadente nos próximos anos… Certamente o Brasil tem todas as condições de chegar a níveis de grau de investimento”, disse ele a jornalistas após participar de um seminário sobre crescimento, promovido pelo PMDB.

Durante o seminário, Meirelles afirmou que “para que a taxa de juros caia de forma consistente, é preciso, entre outras medidas, que o risco-País caia.”

Questionado se o BC vê espaço para mais cortes de juros, Meirelles disse que os indicadores econômicos é que vão “sinalizar exatamente o ritmo dos próximos passos do Banco Central”. “A trajetória da inflação medida está convergindo para as trajetórias das metas e certamente o BC está flexibilizando de acordo a política monetária”, disse ele.

Comentando a primeira queda do risco-País abaixo de 500 pontos desde 1998 na segunda-feira, Meirelles disse que isso é “a demonstração clara do sucesso da política econômica do governo Lula. O mundo (está) reconhecendo que o Brasil está dando os passos corretos”. Ele acrescentou que o risco-País indica o grau de confiança dos investidores na economia e portanto tem reflexo direto sobre o custo de financiamento para os investimentos.

Meirelles disse ainda que “as causas estruturais que justificam nossa (ainda) elevada taxa de risco soberano são um dos entraves que ainda nos afastam do pleno desenvolvimento. A eliminação dessas causas é condição essencial para que caia a percepção de risco da economia brasileira”.

Ao comentar os entraves à queda do risco, Meirelles afirmou que o Brasil precisa consolidar a estabilidade macroeconômica e que, a partir disso, o País passará a receber mais investimentos.

Recuperação

O chefe do BC destacou também que as taxas de juros de longo prazo brasileira estão caindo e isto está impulsionando a retomada da atividade, que já começa a apresentar “sinais evidentes” de recuperação. “A parte mais árdua ficou para trás, temos agora que trabalhar pela consolidação do crescimento sustentável.”

Ele acrescentou que “a flexibilização da política monetária iniciada em junho e intensificada nos meses seguintes, o aumento da oferta de crédito e o aumento dos rendimentos reais possibilitados pela queda da inflação permitirão um aumento progressivo do consumo”.

Segundo o presidente do BC, todos os indicadores estão convergindo para as metas estabelecidas pelo governo e o País está entrando em um “ciclo virtuoso de crescimento”.

Ele ponderou que normalmente os ciclos de recuperação apresentam dados “contraditórios e divergentes”, o que vem ocorrendo no Brasil.

Meirelles citou como exemplo dados mostrando que enquanto a produção de bens duráveis e as vendas de veículos mostram recuperação acentuada, as vendas do varejo ainda estão tímidas.

País não pode desperdiçar o bom momento

O presidente do BNDES, Carlos Lessa, que também participou do encontro, concordou com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. “O Brasil não pode desperdiçar o bom momento que vive na recuperação da atividade econômica”, apesar das elevadas taxas de juros que “ainda estrangulam a economia”, ainda que a taxa Selic tenha caído nove pontos percentuais de junho para cá. Lessa lembrou, no entanto, que “o simples afrouxar da corda não devolve oxigênio ao enforcado”.

Na opinião de Lessa, a retomada do processo de desenvolvimento carece da coesão de todos os agentes econômicos, porque “é preciso confirmar para a sociedade que o País vai se desenvolver, e para isso é fundamental investir em infra-estrutura”. Ele lembrou que o ministro do Planejamento, Guido Mantega, está se empenhando pela Parceria Público-Privada, para viabilizar a retomada de grandes programas. Anteontem, o ministro Mantega apresentou projetos para empresários, em Brasília.

Lessa disse que a economia nacional “está no rumo certo”, preconizou crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 3% no ano que vem, e de “pelo menos 5%” nos anos seguintes. Ele lembrou que, se isso se confirmar, o País poderá conviver com um problema adicional: a carência de energia elétrica. Por isso, ele destacou a necessidade de grande esforço imediato de produção e distribuição de energia, para que o País não reviva o “apagão” de 2001, ou corra o risco de cortes como os que afetaram recentemente os Estados Unidos, Canadá e Europa.

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