Queda da Selic no bolso não passa de centavos

São Paulo  – A queda de juro promovida pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva chega a 7,5 pontos percentuais este ano. A Selic baixou de 26,5% ao ano em fevereiro para 19% na última quarta-feira, mas a queda está longe de significar um grande alívio no bolso do consumidor. Segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), o juro ao consumidor acumula uma queda de 10 pontos percentuais de janeiro para cá – caiu de 165,87% para 155,48% ao ano – mas isso ainda é pouco para ser percebido pela população.

“O juro ao consumidor, em média, caiu mais do que a taxa Selic. A taxa média mensal, que era de 8,49% ao ano em janeiro, deve cair para 8,06% com a redução anunciada hoje, mas em reais as reduções não passam de centavos economizados nas prestações”, diz o economista Miguel Oliveira, presidente da Anefac e responsável pela pesquisa.

Segundo a pesquisa, com a redução de um ponto percentual anunciada pelo Comitê de Política Monetária o juro médio cobrado das pessoas físicas deve baixar de 8,13% para 8,06% ao mês – ou de 155,48% para 153,5% ao ano.

Para o tomador de um empréstimo no cheque especial, por exemplo, o repasse integral da queda da Selic significa uma economia pífia. Um exemplo: ao usar mil reais por 20 dias, o consumidor estará pagando apenas R$ 0,47 a menos se a taxa cobrada pelo banco cair de 9,03% para 8,96% ao mês. Ou seja, pagava R$ 60,20 de juro e agora vai pagar R$ 59,73. No cartão de crédito, considerando uma taxa média anterior de 10,39% ao mês e uma nova taxa de 10,32% (com repasse integral da redução da Selic), usar mil reais no crédito rotativo por 30 dias ficará apenas R$ 0,70 mais barato. Com o juro antigo, o consumidor desembolsava R$ 103,90. Com o novo, poderá pagar R$ 103,20.

No crediário das lojas a situação do consumidor é a mesma. Segundo a Anefac, o juro deve cair de 6,32% para 6,25% ao mês. Se o consumidor comprar uma geladeira com o juro novo, vai pagar R$ 0,37 a menos na prestação de uma geladeira comprada em doze vezes e vendida à vista por R$ 800. O juro antigo resulta numa prestação de R$ 97,10 e preço total de R$ 1.165,20. Com o novo, a prestação cai para R$ 96,73 e o preço total para R$ 1.160,76.

Críticas ao conservadorismo do Copom

São Paulo e Brasília

(AE) – O governo federal está dando as costas para as necessidades econômicas e sociais do País e isso ficou provado com o anúncio de um corte de apenas 1 ponto porcentual na taxa básica de juros, que caiu de 20% ao ano para 19%. A afirmação é do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, em nota divulgada à imprensa. “A queda só fez com que os juros se mantenham no mesmo patamar do governo anterior, cujas políticas iniciaram o processo de sucateamento da nossa economia e mais especificamente da nossa indústria”, diz Paulinho.

Para ele, esse gradualismo do Copom, ao lado de outras medidas igualmente ineficazes, já comprometeu a economia no primeiro semestre do ano que vem. “A única forma de reverter esse quadro e realizar uma verdadeira transformação na economia brasileira é por meio da promoção de quedas bruscas na taxa básica de juros, diminuição do compulsório bancário e descontingenciamento das verbas públicas”, diz o presidente da Força Sindical.

Para o presidente do Conselho do Grupo Votorantim, Antônio Ermírio de Moraes, o corte na Selic é insuficiente para a retomada do crescimento da economia. “Os juros altos estimulam investimentos em papéis e não em produção, que é o que o Brasil precisa”, avaliou. As ações para aumentar o microcrédito empreendidas pelo governo são apenas um “quebra-galho”, disse o executivo, acrescentando que o melhor para o País é produzir. Antônio Ermírio considera difícil uma elevação da ordem de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano, conforme alguns economistas prevêem. “Se acompanharmos o crescimento mundial já é alguma coisa”, disse.

Cobranças

O vice-presidente José Alencar disse ontem que o País ainda não tem uma taxa de mercado e ressaltou que é preciso uma redução ainda maior dos juros até o fim do ano para favorecer as compras de Natal. Segundo ele, o País precida adotar uma taxa de juros compatível com a cobrada no mercado internacional. “Todo mundo sabe que as taxas de juros no Brasil estão muito altas. Enquanto as atividades produtivas não puderem remunerar os custos financeiros com vantagem, não vai haver investimentos compatíveis”, observou. E acrescentou: “A taxa tem que ser a taxa de mercado internacional. Hoje, nós estamos inseridos no mercado internacional. Portanto, não podemos oferecer um tratamento diferenciado e negativo contra a economia brasileira”.

Para José Alencar, é preciso movimento “de inteligência nacional” para resolver o problema dos juros altos que, na sua avaliação, não é apenas técnico, mas político. A uma indagação sobre a possibilidade de o Copom reduzir ainda mais a taxa Selic até o Natal, o vice-presidente respondeu:”Estamos na era da eletrônica, da informática e da robótica. Por isso, até o Natal, dá tempo para fazer tudo”.

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