Puxada nos juros vai aumentar o calote

São Paulo

– A nova elevação da taxa básica de juros (Selic), de 25,5% para 26,5% ao ano, anunciada pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não pegou ninguém de surpresa. O mercado financeiro já esperava o aumento e encarou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), como a única alternativa disponível para conter a inflação.

Os seus efeitos também são conhecidos. Além da tentativa de frear a inflação, os juros altos reforçam a tendência de piora dos índices de inadimplência nos próximos meses.

Dados do Banco Central (BC) mostram que o número de cheques devolvidos por falta de fundos voltou a crescer em todo o País. No mês passado, foram emitidos 10,425 milhões de cheques sem fundos, 19% acima dos 8,758 milhões registrados em dezembro. Foi o maior volume desde abril (10,514 milhões). Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti, a puxada nos juros vai servir para desequilibrar ainda mais o orçamento do consumidor, que já está endividado com as compras que fez no Natal.

“Quem está ?pendurado? no cheque especial, no cartão de crédito ou no empréstimo pessoal vai ter mais dificuldade para regularizar sua situação”, observa Burti. Ele ressalta que além das despesas extras de início de ano, como o pagamento do IPTU, do IPVA e de matrículas escolares, o consumidor sentiu no bolso o peso do aumento das tarifas de energia, de telefonia celular e do transporte público. “São gastos obrigatórios, que drenam recursos disponíveis para consumo ou pagamento de dívidas.”

Mesmo considerando a média das devoluções em relação ao total de cheques compensados pelos bancos, os números são elevados. Levantamento da Centralização dos Serviços Bancários (Serasa) mostra que 14,3 em cada mil cheques compensados em janeiro foram devolvidos por falta de fundos. O índice teve crescimento de 20,2% em relação a dezembro, quando a taxa de devolução foi de 11,9 por mil. Ao contrário dos dados do BC, o levantamento da Serasa só considera o cheque sem fundos depois da segunda devolução. Na comparação com igual período do ano passado, o índice de cheques sem fundos registrou ligeira queda de 1,3%. Em janeiro de 2002, o número de devoluções foi de 14,5 cheques por mil.

Para os técnicos da Serasa, o aumento dos cheques sem fundos em janeiro está associado ao crescimento da atividade econômica no fim de 2002.

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