Protesto de metalúrgicos contra “pacote” argentino

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo – ligado à Força Sindical – protestou ontem, em frente ao Consulado da Argentina em São Paulo, contra a atitude passiva do Brasil em relação às restrições anunciadas pelo país vizinho à importação de eletrodomésticos brasileiros. Segundo o presidente do sindicato, Eleno José Bezerra, o Brasil poderá ter novos problemas dentro do Mercosul – bloco comercial formado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – se permitir que a Argentina barre a importação de eletrodomésticos brasileiros.

“Se o Brasil aceitar o tarifaço da Argentina, todos os outros países parceiros do Mercosul se sentirão no mesmo direito de sobretaxar os produtos brasileiros”, disse Bezerra se referindo à alíquota de 21% criada para a importação de TVs fabricadas na Zona Franca de Manaus (AM).

Segundo ele, o governo brasileiro tem de buscar uma solução para o caso, que ameaça os empregos dentro do país. “A Argentina tem de entender que não se resolve problema de competitividade com guerra comercial. Essas medidas da Argentina ameaçam o nível de emprego no Brasil”, afirmou Bezerra.

Pelos cálculos da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), a barreira argentina pode fechar uma fábrica no Brasil e cortar até 1.000 empregos.

Samba, tango e futebol

Para protestar contra as barreiras argentinas, o sindicato realizou ontem um protesto em frente ao Consulado da Argentina.

“Foi um protesto bem-humorado. Levamos dançarinos de samba, tango e jogadores de futebol para o consulado”, disse Bezerra.

Segundo ele, o sindicato também entregou ao cônsul argentino Sergio Iaciuk uma carta criticando a postura da Argentina em relação aos eletrodomésticos fabricados no Brasil.

“Não podemos aceitar essa posição da Argentina. Se aceitarmos barreiras contra nossos eletrodomésticos, depois eles vão querer barrar outros produtos, como automóveis, máquinas agrícolas.”

Importadores não apóiam medidas

A Câmara de Importadores da Argentina rejeita as medidas a serem adotadas pelo governo para impedir a entrada de eletrodomésticos brasileiros ao país, pois considera que a indústria local “não está em condições” de abastecer seu próprio mercado com esses produtos.

A “raiz” dessas restrições é que “a indústria argentina não chega a ser competitiva em seu próprio país”, apesar da forte desvalorização sofrida pelo peso em 2002, disse ontem o diretor da associação de importadores, Carlos Restaino.

“Há dois anos que 70% do mercado interno (de eletrodomésticos) é abastecido por produtos brasileiros”, disse Restaio, acrescentando que “não ficou claro qual é o objetivo final” das barreiras à entrada de eletrodomésticos brasileiros anunciadas na semana passada pelo governo, que ainda não as pôs em vigor porque espera um acordo entre empresas dos dois países.”

Começou ontem, em Buenos Aires, uma reunião de empresários de ambos os países para estabelecer cotas para a importação de eletrodomésticos brasileiros e superar o conflito comercial.

A imprensa argentina destacou ontem que teve início uma onda de protestos de trabalhadores metalúrgicos e empresários do Brasil e que as filiais da Sony e da Philco no país anunciaram que suspenderiam os envios à Argentina.

A câmara de empresas metalúrgicas da Argentina pediu na terça-feira que as barreiras à entrada de eletrodomésticos brasileiros fossem aplicadas “em breve” e propôs medidas protecionistas similares para outras indústrias locais afetadas pela “invasão” de produtos importados do Brasil.

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