A batata inglesa, uma das mais consumidas no território nacional, não teria esse nome se fosse um produto genuinamente brasileiro. Porém, essa realidade está com os dias contados. O projeto Melhoramento Participativo de Batata desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unificado em 2002 pelas subdivisões da empresa que já vinham pesquisando o tubérculo, prepara-se para apresentar no próximo dia 16 a quinta cultivar – BRS Clara – desenvolvida por pesquisadores interessados em desenvolver variedades 100% brasileiras. Tamanha foi a dedicação empregada na criação dessas variedades, que se convencionou a chamar todas as cultivares por nomes femininos. Além de Clara, os produtores, ainda de modo experimental, já podem ter acesso às sementes das batatas BRS Ana, BRS Eliza, BRS Cristal e BRS Catucha (porque o pesquisador quis homenagear os dois estados onde estudou a cultivar – Santa Catarina e Rio Grande do Sul). “Todas essas quatro já trouxeram resultados muito bons como uma exuberante redução no uso do agrotóxico, entre 60% e 75%, redução da ordem de até 15% no emprego de adubos, um alto potencial produtivo, semelhante a produtividade observada nas batatas comuns o que contribuiu para ampliação de escala e, o melhor, uma ampla capacidade de se adaptar aos diferentes tipos de clima e solo encontrados no Brasil”, conta um dos entusiastas do projeto, o engenheiro agrônomo da Embrapa Transferência de Tecnologia, do Escritório de Negócios de Canoinhas (RS), Antônio Bortoletto.

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Segundo o engenheiro agrônomo, as variedades de batatas mais presentes nas mesas dos brasileiros, são produtos com sementes desenvolvidas pelos países europeus, grandes consumidores do produto. “Para que essas batatas se desenvolvam no Brasil, os produtores precisam borrifar as plantações várias vezes ao longo do ciclo, há plantações que recebem até 19 borrifadas de agrotóxicos até a colheita”, informa.

Bortoletto trouxe para a Fazenda da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no Canguiri, em Pinhais, na Grande Curitiba, as cultivares da batata para serem avaliadas pelos estudantes do curso de Agronomia. No dia em que as plantas foram fotografas pelo O Estado, elas já tinham 60 dias de desenvolvimento. Vale destacar que, o ciclo total dessas cultivares varia de 90 a 120 dias. “Até o momento, os resultados têm sido bastante satisfatórios. Tanto que já está prevista uma tese de mestrado sobre o desempenho desses cultivares. Serão avaliadas desde as propriedades nutricionais, até quesitos como produtividade e custo de produção”, antecipa o professor de Olericultura da UFPR, Átila Francisco Mogor.

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Melhoramento

O professor esclarece que os procedimentos da Embrapa utilizados no melhoramento genético das cultivares de batatas seguem os meios tradicionais e, por esta razão, podem ser considerados produtos orgânicos, uma vez que a resistência às pragas é bem elevada. “Todas as cinco cultivares foram obtidas pelo processo tradicional de melhoramento genético com cruzamento entre cultivares. Como eles são muito resistentes, dispensam a aplicação de agrotóxico, por isso que foi possível cultivá-las no Canguiri que é uma área de manancial”, afirma Mogor. Para se ter uma noção do quanto de ciência e tecnologia estão por trás do projeto, em média, cada cultivar mobiliza um grupo de pesquisadores da Embrapa, por vezes com parceiros da iniciativa privada, e que consomem entre cinco e oito anos entre o início da pesquisa e apresentação da cultivar obtida. “A apresentação é o momento onde mostramos para o setor a novidade, porém, ainda se leva mais um tempo ,para disponibilizar o produto aos produtores”, explica Bortoletto. Por ano, o melhoramento participativo gera e submete à seleção de 50 a 60 mil genótipos. A meta da Embrapa é apresentar a cada dois anos uma nova cultivar.

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Segundo Bortoletto, pelo site da Embrapa (www.embrapa.br), os produtores interessados em experimentar as cultivares podem verificar junto aos escritórios regionais como adquirir as sementes. Em Pinhais, a fazenda da UFPR ainda irá testar por um ano as cultivares, para depois disponibilizar algumas sementes para os produtores da Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

Projeto

O projeto Melhoramento Participativo de Batata, desde 2002, é conduzido em rede pela Embrapa Clima Temperado, Embrapa Hortaliças e Embrapa Transferência de Tecnologia -Escritório de Canoinhas (RS). Ele conta com a parceria de instituições nacionais e internacionais e, sobretudo, com a contribuição decisiva, constante e ativa de produtores das mais importantes regiões do Brasil.

A BRS Ana, por exemplo, lançada em 2007, já se mostra bastante competitiva e em processo de adoção pelos produtores.