Produção de café cresce no Estado, mas o lucro não

Apesar da produção de café ter crescido 39% na safra desse ano (enquanto a área plantada caiu 3%) no Paraná, o velho problema que aflige os cafeicultores continua muito mais recente do que nunca: a dificuldade com a renda e lucratividade. Está em época de colheita e o Paraná é o 5.º produtor do País.

Faz quatro safras que o agricultor não tem lucro com o café, segundo especialistas. Por conta disso, no mês passado, alguns cafeicultores do Estado se reuniram em Londrina, no norte do Paraná, para discutir propostas que serão levadas ao governo federal. Uma das ideias é propor uma linha de crédito para estocagem. E esse problema com a lucratividade baixa pode ser explicado por vários fatores, entre eles o custo da produção, que só aumenta, enquanto o preço continua estável. Sem falar nos gastos com mão-de-obra, que representam 50% do valor da saca de café. “Para agravar a situação, a mão-de-obra está ficando cada vez mais cara e escassa. Enquanto isso, o preço de venda está estabilizado, o que resulta no empate ou até na perda para o cafeicultor”, afirma o especialista em café e economista da Secretaria de Estado da Agricultura (Seab), Paulo Sérgio Franzini.

Neste ano, o cafeicultor não teve tantos problemas com as chuvas, ao contrário do ano passado, quando caiu muita água nas plantações e a qualidade do café (e houve até perdas) diminuiu bastante. Porém, como explica Franzini, é possível que haja dificuldades na colheita, que está iniciando. Isso porque a chuva desse ano também afetou o processo de maturação do grão (embora não tanto quanto no ano passado). “Esse ano teremos uma boa colheita, mas com certeza o café será disforme, o que afeta a qualidade do produto”, afirma Franzini.

Já o presidente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná, Luís Fernando de Andrade Leite, tem uma visão mais otimista da questão. Ele conta que várias iniciativas estão sendo tomadas para melhorar as condições dos cafeicultores. Uma delas é a criação da Indicação Geográfica do café do norte pioneiro. Será uma espécie de selo que indicará a origem do café e todas as suas características. O processo para criar a Indicação Geográfica está em fase final. “Isso traz credibilidade para nós e melhora a gestão do produtor”, observa.

A questão do preço, para Andrade, realmente precisa ser melhorada. Porém, todas as iniciativas têm esse objetivo. “Estamos trabalhando com mecanização e tecnologia e criando alternativas, como negociar quantidades grandes de adubo, por exemplo, o que possibilitou a diminuição dos custos em até 30%”, comentou. Segundo ele, economizando 30% na compra de insumos e ganhando pelo menos 20% na venda do produto – segundo ele os agricultores do norte pioneiro estão vendendo a saca a até R$80 a mais do que o mercado em geral. “E, claro, o mercado quer qualidade. Então o produtor tem que criar diferenciais. Um deles é adiantar contratos, o que o produtor ainda não tem o hábito de fazer. Mas se ele fizer, com certeza vai ganhar ou manter os lucros”, orienta.

Cafezinho: paixão nacional brasileira

Apesar da baixa lucratividade para o produtor, o cafezinho do dia-a-dia não perde o posto de bebida preferida dos brasileiros jamais. Em 2009, o consumo per capita no Brasil foi de 5,81 kg de café em grão cru, ou 4,65 kg de café torrado, quase 78 litros por pessoa por ano, uma evolução de 3% em relação ao período anterior.

De 2003 para 2009 aumentou 14% o consumo de café na classe C, e 4% no sexo feminino. Este é apenas um dos dados levantados pela pesquisa da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC) Tendências no Consumo de Café 2009. Porém, o estudo também indicou que a maior parte dos consumidores ainda é na faixa etária dos 36 aos 50 anos de idade, e entre os casados. A pesquisa apontou, ainda, outro dado curioso: a introdução do consumo de café antes dos seis anos de idade. Em sete anos, cresceu 170% o consumo da bebida fora de casa, refletindo o aumento no número de casas comerciais que oferecem cafés dos mais diversos tipos.

Além do café, as bebidas mais consumidas pelo brasileiro, segundo o estudo da ABIC são água, refrigerantes, leite e suco natural, embora a pesquisa aponte que o café ainda é insubstituível. A região Sul aparece como uma das que mais possui pessoas que entendem mais sobre os benefícios da bebida.
O conceito de qualidade, como apontou a pesquisa, continua sendo pautado por três itens principais: pureza, aroma ao abrir a embalagem e aspectos ligados à certificação de qualidade, como o selo.

Sem falar no índice de abandono apontado pelo estudo, o que evidencia ainda mais que o café é mesmo uma das bebidas preferidas dos brasileiros: 1%. Em volume, o Brasil é o segundo maior País consumidor, com 18,39 milhões de sacas industrializados em 2009 (4,5% a mais que em 2008). Em primeiro lugar estão os Estados Unidos, com uma média de 20/21 milhões de sacas/ano. Esse consumo per capita se aproxima ao da Alemanha (5,86 kg/habitantes por ano) e já supera os índices da Itália e da França, que são grandes consumidores de café. Mas os campeões nesse quesito, entretanto, ainda são os países nórdicos – Finlândia, Noruega, Dinamarca – com um volume próximo dos 13 kg por habitante/ano. (MA)