Sobretaxado pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos no processo no qual o Brasil é acusado de “dumping”, a produção de camarão brasileiro vem dando um salto de qualidade que começa a incomodar as empresas pesqueiras norte-americanas. Apesar de a cultura do crustáceo (carcinocultura) ser uma atividade recente no Nordeste, onde se concentra 95% da produção, o País caminha para virar um gigante do setor. Em pouco mais de uma década, o Brasil se transformou no sexto maior produtor e exportador do camarão marinho cultivado. E já tem a maior taxa de produtividade do mundo.

Resultado: o país pode se dar ao luxo de cobrar o menor preço no mercado externo, dizem os produtores brasileiros. De 1997 a 2003, a produção de camarão cultivado cresceu 400% ao ano. O volume exportado que era quase zero há sete anos, registrou crescimento de 14.500% de lá para cá, um recorde mundial. O camarão já é o segundo valor na pauta de exportações do setor primário no Nordeste (só perde para a cana-de-açúcar). E não pára de crescer.

Em 2003 foram produzidas no Brasil 90,2 mil toneladas de camarão marinho cultivado, das quais 58,5 mil foram exportadas, num total de US$ 225,9 milhões. Para 2004, a meta é produzir 117 mil toneladas e chegar a US$ 300 milhões em exportações. Isso por conta de uma produtividade de 6.084 quilos por hectare/ano, deixando longe o segundo colocado nesse “ranking” (a Tailândia, com 4.375 quilos por hectare/ano).

É em Pernambuco, a 80 quilômetros de Recife, que fica a Costa Dourada Camarões Ltda, que detém uma produtividade inédita no mundo, graças à sua tecnologia de ponta: 20 mil quilos por hectare/ano, um índice que tem atraído a atenção de especialistas do Havaí, Malásia, China, que vão ao município de Sirianhém visitar a empresa.

No Rio Grande do Norte, a Aquatec responde pela maior produção de larvas e pós-larvas de camarão do mundo: três bilhões ao ano para suprir uma carteira de 500 clientes espalhadas pelo país, 30% do mercado brasileiro. Maior produtora de camarão cultivado do país, com 959,50 hectares de viveiros, a Potiporã Aquacultura Ltda, a 200 quilômetros de Natal, se prepara para assumir em 2005 a liderança mundial na produção.

Todos esses dados, colhidos entre os empresários do setor e nas estatísticas da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), indicam a tendência da atividade que começou a ser implantada em escala na região ao longo da última década.

Segundo o presidente da ABCC, Itamar Rocha, entre 1997 e 2003, a produção de camarão cultivado registrou aumento de produtividade de 499%. E a área implantada de viveiros aumentou em 317%.

– No Brasil, 80% da produção e 97% do camarão exportado são de cultivo. Nos Estados Unidos, só 3% do camarão produzido pelos americanos é cultivado, uma taxa inferior à tendência atual no mundo, onde o consumo do crustáceo criado em cativeiro já atinge 37%. As empresas de pesca americanas ainda insistem na captura, mas a produção só faz declinar – diz Rocha.

Os produtores brasileiros chegam a colocar o camarão a US$ 4,40 (o quilo do pequeno e médio) nos EUA, contra o preço médio de US$ 6,50 dos colegas daquele país. O resultado foi que o Departamento de Comércio dos EUA aplicou sobretaxa média de 36,9% no camarão importado do Brasil. Os percentuais impostos chegam a 67,8% (caso da Nortepesca). A única empresa brasileira não sobretaxada, a Netuno, também não escapou do protecionismo norte-americano: na última quarta-feira, empresários norte-americanos ingressaram com ação pedindo revisão da taxa zero para ela.

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