Pressão externa e boatos abalam dólar e bolsas

São Paulo

(Das agências) – A tensão dos mercados internacionais contaminou o câmbio brasileiro ontem e levou o dólar a fechar em alta de mais de 1,46%, a despeito do “empréstimo” de moeda feito pelo Banco Central. A intervenção foi pouca face ao comportamento dos pregões nos EUA e aos rumores eleitorais que apontariam o candidato Ciro Gomes disparando em segundo lugar, deixando o tucano José Serra para trás.

“Hoje era dia para vender dólar à vista, não leilão de linha (externa)”, disse o responsável pela área de câmbio do Banco Banif-Primus, Rodrigo Trotta. O dólar fechou a R$ 2,856, com valorização de 1,46% – o bastante para colocar a moeda novamente em alta no acumulado de julho, com avanço de 1,24%. Ao longo do pregão, na volta do intevalo de almoço, a divisa chegou a ser negociada R$ 2,872, em alta de 2,13%.

A cota de US$ 50 milhões que o BC se comprometeu a oferecer diariamente até o fim do mês veio sob a forma de empréstimo. No leilão realizado no intervalo de almoço, a autoridade monetária vendeu dólar a R$ 2,846, com recompra em 16 de setembro próximo, à cotação de R$ 2,904. Além da pressão nos mercados internacionais, o câmbio era também pressionado por novos rumores eleitorais, que apontavam para novo avanço do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, que viria isolado na segunda colocação de uma pesquisa Ibope que será divulgada nesta terça-feira. José Serra (PSDB), predileto do mercado, cairia para terceiro lugar.

Na análise de Alexandre Mathias, economista-chefe do Unibanco Asset Management, a desvalorização do euro frente ao dólar causou turbulência nos mercados financeiros. A taxa de risco do Brasil também sofreu forte alta ontem. À tarde, o risco-país do Brasil estava em 1.563 pontos básicos, uma alta de 3,6% em relação a sexta-feira. Os títulos da dívida brasileira estavam pagando 15,63 pontos percentuais acima dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

Apesar da forte turbulência, o BC rolou mais da metade do próximo vencimento de títulos atrelados ao câmbio, no próximo dia 18. Dos R$ 2,696 bilhões que vencem, R$ 1,555 bilhão foram extendidos com a venda de swaps, para três vencimentos diferentes. Pouco mais da metade dos contratos vendidos têm vencimento em 13 de fevereiro do próximo ano. Outros 25,8% do total vencem em 25 de setembro deste ano e os demais 22,2% deles vencem em 18 de dezembro do próximo ano.

No mercado acionário o dia também foi de perdas. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) encerrou o pregão viva-voz em queda de 3,1%, aos 10.626 pontos e giro financeiro de R$ 360 milhões. O pregão foi contaminado pelo péssimo desempenho dos mercados norte-americanos e europeus. As bolsas norte-americanas entraram em uma espiral de baixa ontem, derrubadas pelo aprofundamento das preocupações contábeis e pela desvalorização do dólar frente ao euro.

O Dow Jones, que representa as ações mais líquidas da bolsa de Nova York, chegou a operar em queda de 5% e o termômetro tecnológico Nasdaq, no nível mais baixo desde meados de 1997. “Eu me sinto como o capitão do Titanic”, afirmou Tlm Schrader, chefe da mesa de operações da Legg Mason Wood Walker. “Há poucos setores a salvo.”

Voltar ao topo